O rio Tejo, como julgo que se ensina ainda na escola, é o maior rio da Península Ibérica. O facto de ser cerca de sete vezes mais pequeno que o maior rio do mundo – o Nilo – não torna menos impressivos os seus mil quilómetros de comprimento. Porém, a impressividade do rio Tejo não se encerra no seu comprimento, pois, como escreveu e bem recorda Pessoa, “pelo Tejo vai-se para o Mundo. Para além do Tejo há a América” (Alberto Caeiro, 1914).

Mas isso hoje já não interessa nada. Quanto mais a Sociedade se industrializa menos preocupada está com a Natureza. É uma tendência preocupante para a qual não parece haver qualquer sensibilização. O problema parece estar em acharmos que a nossa natureza enquanto indivíduos existe apesar daquela que nos rodeia e no facto de não se aprender, desde cedo, que é precisamente o oposto. Só uma desconsideração da Natureza e dos seus recursos pode justificar o desastre ambiental que ocorreu no rio Tejo, em Abrantes, cidade onde nasci.

Mas a poluição do rio Tejo não é um assunto novo, porque a poluição não é de hoje. Ao longo dos últimos anos este tema tem sido acompanhado por diversas instituições, em especial, pelo «Movimento Pelo Tejo», um movimento de cidadãos com o objectivo de defender a bacia hidrográfica do Tejo. A mediatização da poluição no rio Tejo, que nos últimos dois meses ganhou um espaço modesto na comunicação social, resultou, em especial, dos vídeos amadores de Arlindo Consolado Marques, nos quais denuncia várias das demonstrações dantescas de poluição que ocorreram no rio Tejo, desde a morte de milhares de peixes num braço do rio à enorme concentração de espuma no Açude de Abrantes.

Basta ver alguns dos vídeos publicados por este guardião do Tejo – epíteto que lhe foi atribuído por força da sua defesa intransigente do rio – para perceber duas coisas fundamentais sobre o tema: a primeira, é a de que a poluição no rio tem sido constante nos últimos anos; a segunda, é a de que a dimensão e o impacto da poluição no meio ambiente são enormes.

Mas Arlindo Consolado Marques foi um pouco mais longe e imputou a poluição do rio à Celtejo, uma fábrica de celulose situada em Vila Velha de Ródão. Esta denúncia valeu-lhe uma acção por ofensa ao bom nome que Arlindo se prepara para combater com todos os meios ao seu alcance, inclusive aqueles que resultarem da campanha de crowdfunding que está ainda a decorrer para o ajudar com as despesas inerentes a esse processo.

Por agora, o Ministério Público está a investigar as várias denúncias que foram feitas sobre a poluição no rio Tejo, contudo, uma conclusão parece já ser evidente: a poluição no Tejo é mais do que um pontual desastre ambiental, ela é a manifestação de que existe no meio dos operadores em questão a consciência de que não existem sanções para o incumprimento das licenças ambientais ou, pior, a consciência de que, apesar das sanções aplicadas, a poluição continua a compensar.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.