A partir de dia 12 de Março, teremos a segunda Comissão Parlamentar e Inquérito (CPI) à CGD. Será mais uma telenovela sem fim à vista. À semelhança de todas as outras CPI, a primeira realizada à Caixa, a da resolução e venda do Banif, e a do BES, esta também está desenhada para entreter os portugueses. Ficaremos a saber, uma vez mais, que os banqueiros e gestores do sector financeiro são os maus que utilizam as instituições com as piores práticas possíveis, e de como tudo foi possível perante o olhar de reguladores e governantes.

Não se falará de todos os que trabalham no sector e que, nada tendo a ver com prática incorrectas, estão a pagar a factura do fundo de resolução.

Ao invés do sector financeiro estar ao serviço da economia, perceber-se-á que a teia entre políticos, empresários e banca e as portas giratórios de sector público e privado continuam enraizadas e bem presentes. Não são as 35 personalidades, das 142 escolhidas para serem ouvidas, que irão elucidar o país de algum facto. Iremos ouvir discursos de esquecimentos e passa-culpas entre auditores, administradores, departamentos, supervisores e todos os que forem possíveis atirar para a fogueira.

Abstraindo deste enredo, teríamos de nos perguntar para que servem então todos os controlos desenhados para uma instituição financeira, que vão desde compliance, auditoria interna e externa, controlo de risco, acompanhamento de clientes, comités de risco, comissões de concessão de crédito, comités de investimento, responsabilidade dos administradores, entre dezenas de outras comissões, comités ou departamentos.

Nada de novo se irá saber na CPI da Caixa que já não tenha sido escrutinado há quase cinco anos na CPI do BES, como por exemplo as ligações entre o BES e o Montepio ou com a CGD, e os interesses comuns, ou a quem interessava o conluio de algumas instituições. Já a saga do BES não dá sinal de tréguas. Para além de três balanços, o do BES “Mau”, o do Novo Banco e de um novo balanço de uma actividade que gera lucro, chegou também a moda das auditorias.

Desde a auditoria aos créditos concedidos antes da resolução à auditoria da gestão actual, passando por uma auditoria à actuação do Banco de Portugal no caso BES, tudo é pedido. Não há decência na batalha político-partidária e nos ajustes de contas entre castas que não se dão conta de estarem a destruir e empobrecer o país.

Não é possível acreditar num governo que pede agora uma auditoria ao BES, mas que já tinha previsto, na elaboração do orçamento para 2019, uma folga de 850 milhões de euros para emprestar ao Fundo de Resolução e financiar o suposto Banco “Bom”.

Numa altura de muita informação e proximidade de eleições, é fácil confundir e baralhar a opinião pública. Entretanto, o verdadeiro filme passa-se fora de Portugal e da Europa. Temos de agradecer aos políticos europeus a forte revisão em baixa do PIB feita pela OCDE e a sua incapacidade de levar o projecto europeu a bom porto.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.