Faltam dois minutos para a reunião ou 15 minutos para começar a formação.

Onde estaria nestas ocasiões em janeiro ou fevereiro de 2020? Muito provavelmente no corredor do escritório, a dirigir-se para a sala de reuniões, ou a estacionar o carro para chegar ao centro de formação. E antes tinha perdido 30 minutos ou uma hora no trânsito, sabendo que ao final do dia tinha outro tanto para regressar a casa.

Onde estava em janeiro ou fevereiro de 2021? Muito provavelmente a abraçar os seus filhos, a conversar com o seu cônjuge ou a terminar outra reunião online.

Pois é, andámos anos e anos a discutir conciliação da vida familiar e profissional e, de um momento para o outro, o trabalho mudou-se “lá para casa” e fomos todos conciliá-lo com a família.

Uns adaptaram-se bem, outros nem tanto, mas fomos todos forçados a orientar mais o nosso trabalho por objetivos e menos por “pica ponto” das nove às cinco. Passámos a encaixar entre reuniões uma conversa familiar ou a reunião com o nosso banco ou o serviço de lavandaria. Passou a ser mais explícita a relação entre o empregador e o empregado, numa perspetiva de ambos passarem a ter maior visibilidade do real valor acrescentado que cada um contribui para o cômputo geral de criação de valor pela empresa.

Passou a ser evidente a responsabilização individual de cada um perante a empresa, perante os colegas, mesmo quando pelas 11h ou às 16h tivemos de ir com os filhos brincar 30 minutos ou tratar de assuntos pessoais, mesmo que uma dada circunstância tenha obrigado a uma deslocação ao exterior de casa (o novo escritório).

Isto porque, no final do dia, a pergunta é sempre a mesma: o trabalho está feito ou não? Já não interessa se é feito às dez da manhã ou às dez da noite. É a pessoa quem, perante um compromisso de um prazo, concilia a sua gestão da vida familiar com o trabalho, desde que a empresa tenha a responsabilidade ética e a adequada sensatez de planeamento e obrigações.

Este ano tornou evidente, na maioria das situações, que quem não era bom profissional, continuou a não ser, tal como as empresas que estavam desalinhadas com as melhores práticas de gestão de recursos humanos, mais se desalinharam. Obrigar a cumprir horas não significa produzir mais!

O que é que tudo isto reflete? Que vários paradigmas de gestão de recursos humanos, muito eloquentes para alguns sindicatos ou gestores de empresas controladores do “pica ponto”, lhes saíram fora de controlo, ou como se costuma dizer: ficaram sem o tapete que os acompanhava há muitos anos. As evidências da necessidade de trabalho por objetivos e entregáveis, alinhados com as estratégias de negócio, que tanto trabalho dá também a gerir, passou a criar novos e mais eficientes paradigmas mentais e laborais.

A reação de quem aprendeu a gerir recursos humanos no século XX, tendo por base a 1ª Revolução Industrial, de pura fábrica, não pode ser voltar para trás o que ficou lá atrás. Deve ser de construção, evolução e agilização do seu modelo de gestão e enquadramento mental para a 4ª Revolução Industrial, esta que vivemos atualmente. Uma gestão já no mundo digital.

Certamente há muito por fazer. Há muitos que não se adaptaram ao teletrabalho, quer colaboradores, quer gestores, mas no essencial todos passaram a entender melhor que “as tarefas têm de ser feitas por alguém” e que agora sabemos muito melhor quem tem a tarefa, quem a executou e quem teve o mérito de superar as expectativas.