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“Temos fatores de produção exageradamente desfasados [da concorrência]”

O sector agroalimentar português é competitivo, mas perde força por causa dos custos de contexto. Ao Jornal Económico, o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) defende que o Governo tem de ter um papel de apoio. “O Ministério da Agricultura pode estar a pensar em muita coisa, mas na agricultura não está seguramente”, acusa.
17 Outubro 2021, 15h33

O sector agroalimentar português é competitivo, mas perde força por causa dos custos de contexto. Ao Jornal Económico, o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) defende que o Governo tem de ter um papel de apoio. “O Ministério da Agricultura pode estar a pensar em muita coisa, mas na agricultura não está seguramente”, acusa.

 

Como analisa a evolução do sector agroalimentar nos últimos anos?
O sector agroalimentar tem várias componentes. A produção de bens alimentares para consumo direto, como os frutos ou a maioria das hortícolas, e os produtos que são transformados quer para consumo humano quer para alimentação animal, como o trigo, produtos pecuários ou o milho. Num caso e noutro a evolução tenológica associada tem sido exponencial e hoje os produtos obtidos são mais seguros e os métodos de cultivo mais “amigos” do ambiente. Infelizmente, contudo, gerou-se, entretanto, uma onda ideológica anti agricultura que tem prejudicado a continuidade desse processo evolutivo, dificultando o acesso a meios e políticas que deveriam exatamente promover o inverso; a confiança e o reconhecimento. O mesmo acontece com parte da indústria agroalimentar, em particular na relacionada com o processamento de carnes, sectores da maior importância e relevância económica e alimentar, muito prejudicada por uma onda de informação deturpada com propósitos ideológicos e enganadores.

 

O que é necessário para que o sector seja mais competitivo?
Esta questão é complexa de responder. O sector é competitivo, mas, (há sempre um mas para atrapalhar os raciocínios) em Portugal temos fatores de produção exageradamente desfasados dos países mais próximos que connosco mais diretamente concorrem. São exemplos fáceis de observar os custos com a energia, seja a eletricidade ou os combustíveis. É um assunto onde o Estado podia, e devia, intervir, mas pelo contrário ouvimos já o primeiro-ministro assumir publicamente que não pretende mexer na carga fiscal do sector energético por considerar que há que diminuir os consumos, nem que seja à força. Ou seja, será o mesmo que dizer que sabe que temos a corda na garganta a apertar-se e que, em vez de vir em nosso auxílio e aliviar o aperto, permitindo que respiremos, pelo contrário volta as costas e, respirem menos se quiserem. Podemos morrer, para o Governo não é uma preocupação. À parte esta questão da energia muitos são os fatores que neste momento dificultam a nossa competitividade. A absurda ineficácia do funcionamento do PDR, a ausência de políticas incentivadoras dirigidas às empresas e uma espécie de letargia anti uso de água para rega, que é a única forma de permitir que Portugal mantenha o território povoado e vivo economicamente. O Ministério da Agricultura pode estar a pensar em muita coisa, mas na agricultura não está seguramente.

 

Quais são os principais desafios que se colocam ao sector agroalimentar?
A nossa condição de país periférico, com distâncias ao mercado que não nos favorecem, e as dificuldades introduzidas pelo clima de crispação vigente, vão aos poucos diminuindo a nossa capacidade de competir e crescer, levando a que outros, como Marrocos, tomem o nosso lugar e nos castrem a possibilidade de nos afirmarmos num mundo cada vez mais competitivo e agreste. Se com a oportunidade que nos é facultada agora com um novo ciclo da PAC e até do PRR – que infelizmente não contempla como gostaríamos ações de revigoramento e consolidação do sector – não formos capazes de definir uma estratégia para o sector agroalimentar, mas também para o florestal, Portugal continuará tristemente a ocupar o último ou dos últimos lugares do desenvolvimento económico europeu. Não é sina, é política, mesmo.

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