Dificilmente se encontrará na história mundial um cenário como aquele que a Europa vive na atualidade: uma inflação galopante, uma incompreensível atitude do Banco Central Europeu (BCE), uma potencial “bolha” imobiliária de sentido descendente nos países do Sul, e ainda uma guerra persistente e inqualificável que grassa na Europa.
Analistas de vários quadrantes chamam-lhe “tempestade perfeita”, e embora seja quase um dado adquirido qualificar-se como algo apocalíptico aquilo que nos vai acontecendo, a verdade é que “opinadores”, analistas ou gestores têm dificuldade em perceber como reagir, ou seja, onde encontrar um refúgio.
Portugal registou uma inflação homóloga de 8% em maio, algo que não acontecia há 29 anos, e dificilmente se pode qualificar esta inflação como especulativa – até porque temos o preço da energia e dos bens alimentares que pesam de sobremaneira no cabaz nacional.
Recorde-se, ainda, que o instrumento que deveria ser capaz de controlar a subida de preço é a taxa de juro do BCE. Ora, Christine Lagarde, a presidente da instituição, sinalizou a subida em agosto e setembro e, de acordo com analistas, essa subida não deverá irá além de um ponto percentual no conjunto das duas intervenções.
Isto revela uma atitude de medo sobre o futuro e incapacidade do BCE e da Comissão Europeia (CE) em termos de soluções imediatas, ao contrário daquilo que fez a Reserva Federal norte-americana e outros bancos centrais.
De regresso a Portugal, aquilo que é expectável é a subida de juros em agosto com reflexos em todo o tipo de créditos com rendas indexadas a taxas variáveis.
Mais. As dificuldades colocadas pelos bancos na aquisição de habitação própria, somada à imposição à banca de limites aos colaterais e aquilo que a banca pode ter como património vai levar, segundo analistas, a uma derrocada no crédito à habitação e a uma possível paragem total nesta área de negócio.
Saliente-se que a promoção imobiliária e a construção civil têm um peso apreciável no emprego e no Produto nacional, para além de constituir o suporte do negócio da banca nacional. Sem juros a taxa zero, e com limites nos colaterais, este será um mercado que “vai ficar encostado”. É possível que o futuro de curto/médio prazo signifique um “superavit” de construção.
Acresce a isto tudo o potencial de uma crise de dívida externa, que nos levou à troika e à política restritiva da governação de Passos Coelho. Todos os agentes querem esquecer quatro anos terríveis de cortes, suspensões de pagamentos e redução de vencimentos, mas o persistente défice não irá perdoar numa nova crise. E não poderemos dizer que não nos tentam ajudar.
Até setembro, e se a subida da taxa de juro de referência pelo BCE for de apenas um ponto percentual, algo que nada serve para controlar a inflação desenfreada, isso significa que BCE e CE estão a tentar salvar os países do Sul da Europa que vivem do turismo e têm défices externos elevados.
Claro que esta é uma medida desgarrada e avulsa sem impacto na economia e que mais não é do que empurrar uma grande crise financeira, económica e social mais uns meses.
Este comentário não pretende criar um cenário apocalíptico, mas vemos números como os da inflação na Alemanha, que em maio testou os 8,8%, prova de que o instrumento nuclear de controlo da inflação não está a funcionar perante o aumento do preço dos alimentos e da energia.
A Goldman Sachs acredita que os preços do petróleo por barril possa atingir os 140 dólares no terceiro trimestre e o JP Morgan fala em 175 dólares no final do ano. Não há política monetária que resista. E nos criptoativos a tendência é o zero.