Os alertas são reais. Há quem prefira ignorar. A duração da tempestade é imprevisível. É provável que o sistema capitalista global tenha entrado em decadência histórica. Todos os sistemas históricos nascem, crescem, entram em declínio e morrem. Tal como as pessoas. Evidentemente a escala temporal é diferente da humana. Podemos apresentar alguns sinais (relacionados entre si) que alertam para uma tempestade que já começou:
1) As desigualdades sociais e económicas estão a crescer desde a década de 70 do século XX. O economista francês Thomas Piketty que analisou a evolução da distribuição da riqueza desde o século XVIII, no livro o “Capital no Século XXI” (2014), mostrou que as desigualdades estavam perto dos seus máximos históricos.
2) A dívida global está também no seu máximo histórico e a subir. O sistema económico está dependente e é alimentado a dívida. A financeirização da economia é monstruosa. Segundo Richard Heinberg, no livro “The End of Growth: Adapting to Our New Economic Reality” (2011), a economia em sentido abrangente assumiu as características de uma bolha, dependendo da contínua expansão da quantidade de dívida (pública e privada). É uma dívida que não pode ser paga, que representa reivindicações de quantidades de trabalho e recursos que simplesmente não existem.
3) A substituição de trabalho por máquinas, que nas últimas décadas assumiu a forma de tecnologias de informação e computação. Se até determinada altura a mecanização substituiu sobretudo trabalho manual, actualmente assistimos à substituição de trabalho administrativo. Os novos trabalhos criados não compensam os eliminados. E a inteligência artificial ainda está para vir.
4) A abundância de petróleo e outros combustíveis fósseis vai acabar. A economia actual está sustentada nos combustíveis fósseis. Se eles se esgotam ou se tornam mais caros haverá consequências. Não há praticamente sector industrial que não dependa em maior ou menor grau do petróleo. São de prever choques petrolíferos uma vez que a transição para as energias renováveis, devido aos poderosos interesses instalados, não será provavelmente rápida o suficiente.
5) As alterações climáticas e outros problemas ecológicos estão a agravar-se: a acidificação dos oceanos, a diminuição da qualidade e quantidade de água doce, a destruição dos solos, o colapso da biodiversidade, a poluição, etc. As fronteiras da sustentabilidade estão a ser ultrapassadas. A degradação ecológica do planeta terá graves consequências sociais e económicas.
6) Pelos factores acima referidos o potencial de crescimento da economia será afectado. Além disso, determinadas políticas com o objectivo de promover o crescimento económico vão agravar os problemas. E sem crescimento económico não se pode sustentar a médio e longo prazo o actual sistema.
Estamos assim perante um desafio histórico e uma crise sistémica. Não é apenas uma estagnação secular, estamos perante uma tempestade secular. Os sistemas históricos podem ter maneiras mais ou menos destrutivas de se extinguirem. Ao longo da história, as sociedades humanas passaram por revoluções, desenvolvimento expansivo e longos períodos de estagnação ou mesmo regressão. São determinantes as visões e vontades que prevalecem em crises que produzem momentos fundadores da história. São necessárias mudanças sistémicas. Que sejamos capazes de começar a construir as bases da bonança.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.