A carga fiscal ronda hoje os 35% do PIB no nosso país; o valor mais elevado de sempre. Para termos noção, só em 2017 foram arrecadados 71,4 mil milhões de euros em impostos e contribuições sociais; um montante que não está longe do empréstimo total da troika a Portugal no âmbito do PAEF. Nunca o Estado recebeu tanto.
E de um Estado que consegue arrecadar um volume histórico de impostos e de contribuições, esperava-se, em contrapartida, que realizasse mais investimento para prestar serviços com maior qualidade aos seus cidadãos. Curiosamente, temos assistido ao oposto. As estatísticas demonstram mesmo que nos últimos dois anos o investimento público foi inferior a 2% do PIB; o valor mais reduzido desde que há registos. Nunca o Estado investiu tão pouco.
Analisando exclusivamente as contas do SNS, observa-se que os montantes investidos na saúde em 2016 e 2017 ficaram 28% abaixo do valor de 2015. Recorde-se que é precisamente deste sector que provêm inúmeros relatos de problemas, nomeadamente no que toca aos hospitais.
Tendo sido prometida uma menor carga fiscal, bem como um maior investimento público, estes factos só podem causar perplexidade. Contudo, aquilo que verdadeiramente surpreende é o facto de o Governo continuar a contar com o mesmo apoio entusiasta das forças mais à esquerda; o que demonstra a habilidade política de António Costa. Não estivéssemos nós no proclamado “tempo novo” (vá-se lá saber o que isso é), e certamente que comunistas e bloquistas já teriam censurado o Governo com toda a pompa e circunstância.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.