Se Putin fosse um homem culto – um grande “se” – estaria a reler o poema de T. S. Eliot, que começa pela afirmação que abril é o mais cruel dos meses.
Tudo lhe correu mal, e a fechar o mês Gerasimov, chief of staff das forças russas que ele enviou à Ucrânia dia 27 para levantar o moral das tropas, foi ferido na perna direita por estilhaços e evacuado; três militares que o acompanhavam terão sido mortos.
Como se não bastasse, o seu aviso sobre os fornecimentos de armas à Ucrânia elevarem o risco de um conflito nuclear não foram tomados a sério por ninguém, o que constitui uma falta de respeito suprema, um “cão que ladra não morde”.
Também, como quer ele ser levado a sério quando se queixa da NATO lhe fazer guerra com a Ucrânia por proxy quando a União Soviética que ele quer reviver forneceu ao Vietname do Norte 400 MIG, 2.000 tanques, 7.000 peças de artilharia e 5.000 antiaéreas?
Mas abril foi cruel também para Wall Street. O Nasdaq passa pelo pior momento da sua história, com uma queda de mais de 20% desde o início do ano; o S&P 500 perde “apenas” 13%, o pior quadrimestre desde os anos 40. O fundo ARK Innovation, de Cathie Woods, caiu 30% em abril. Sexta-feira a Amazon perdeu 14%, a maior queda diária desde 2006.
Mais. O VIX, que estima a volatilidade esperada do S&P 500, o “índice do medo”, subiu 18% a semana passada e ultrapassou 30, muito acima da sua média de menos de 20. Com o fim das compras de ativos pela Reserva Federal (Fed), o mercado perdeu a âncora de estabilidade.
As incertezas têm levado os investidores a procurar refúgio no dólar, com a expectativa de subida dos juros americanos e de valorização do câmbio. O euro já perdeu 7% este ano e o iene está ao mais baixo de 20 anos – desde janeiro passou de 103 por dólar para 130.
Ora, diz a Teoria Económica que de três objetivos – inflação, taxa de juro e taxa de câmbio – só é possível fixar dois, o terceiro é endógeno. Portanto, para a Europa a mensagem é simples: para controlar a inflação sem o euro cair demasiado, a taxa de juro vai ter de subir.
Esta semana, a taxa de juro americana vai subir 50 pontos base (probabilidade de 99% pelos futuros sobre a fed funds rate) e criar mais pressão. O rendimento dos títulos do Tesouro já aumentou 140 pontos base desde o início do ano. Até onde irá Powell para não ser emparelhado com Arthur Burns, o Governador que deixou a inflação ir aos dois dígitos nos anos 70?
É que se o PIB dos EUA caiu 1,4% no primeiro trimestre, tal foi afetado por acontecimentos extraordinários, desde a quebra na formação de stocks, ao atraso no processamento das importações, à queda de nível associada ao fim dos programas de estímulos e uma redução na despesa de defesa. Mas o consumo das famílias acelerou.
Portanto, qual é o risco de recessão versus o risco de inflação? O que vai fazer Powell? Estamos em muddling through. Para sabermos o que vai acontecer em 2022, olhar para a Fed não basta, é melhor ir à bruxa.