A resposta à questão depende do custo do dinheiro que contratou e das despesas paralelas como o seguro. Pode ser sim, mas na generalidade dos contratos de mútuo hipotecários a resposta é: Não vale a pena amortizar!
Vamos fazer a análise. A amortização de um empréstimo costuma ser o primeiro objetivo de quem o contraiu, exceto para quem tem intenção de não cumprir com as obrigações. Mas o grande tema é perceber se liquidar/amortizar o empréstimo faz sentido em todas as situações.
Antes de mais a amortização é sempre feita mensalmente quando se fazem pagamentos, sendo que parte é para liquidar o financiamento e outra parte é para pagar o juro. Esta situação tem uma exceção que acontece quando é contratado um período de carência de juros e/ou amortização. O primeiro tema a perceber é o custo inerente ao empréstimo que implica juro cuja taxa foi previamente acordada com a entidade financiadora e ainda outros custos como seja o custo do processo de abertura do empréstimo e o custo do seguro que em muitos casos acompanha o pedido de empréstimo.
No caso de um crédito ao consumo quase será desnecessário fazer contas para concluir que é de todo o interesse efetuar a liquidação o mais rápido possível, nem que isso implique pagar um prémio (um custo) pela antecipação da amortização. E mesmo que num crédito ao consumo o devedor tenha de pagar juros – mesmo depois da antecipação do pagamento – é sempre importante liquidar o valor se o indexante contratado for de taxa variável, pois existe o risco de subida de juros. Pelo contrário, se num crédito ao consumo com taxa fixa e a entidade financeira não fizer qualquer dedução de juros não corridos e obrigar ao pagamento integral de capital e juros, então será melhor deixar correr, pagar mensalmente e manter a liquidez do seu lado.
Num crédito hipotecário a questão tem mais nuances. Confidenciava um gestor de um grande banco que manter a liquidez do lado do cliente é muito importante, sendo quase uma questão de segurança. E argumentava com a situação de taxa de juro diretora negativa por parte do Banco Central Europeu ser um cenário absolutamente anormal. E embora a presidente do BCE, Christine Lagarde, já tenha dado indicações de que a persistência da inflação é um sinal para a alteração da política monetária com eventual subida de juros entre o final de 2022 e início de 2023, a questão que vale “1 milhão de dólares” é perceber quando é que tal irá acontecer e qual a sua dinâmica. Diz o mesmo gestor que uma subida de 25 a 50 pontos de base (0,25% a 0,5%) a três anos é algo insignificante no valor mensal a liquidar junto do banco pelo crédito hipotecário. É preferível manter a liquidez. Diferente será o cenário de subida acentuada e recorde-se que as famílias e empresas entraram em stresse em 2008 quando a taxa diretora foi aos 5%. O indexante euribor nos vários prazos continua negativo, o que é uma anormalidade tendo em conta que os bancos ganham com as margens e emprestar dinheiro a zero não é o normal.
Dito isto é preciso perceber que a par da subida dos juros, um crédito hipotecário tem outros custos como seja a manutenção mensal da conta e um seguro de vida associado e que se pode tornar muito caro com a idade do mutuário a avançar.
Perante o cenário realista de subida suave dos juros para dentro de um ano, e considerando que a inflação vai persistir acima dos 2%, a boa opção será manter a liquidez como reserva. Lembremo-nos que a amortização é sempre possível e que esse pagamento implica ressarcir a instituição financeira com um prémio de 0,5% (sobre o capital amortizado), considerando que foi feito um contrato com taxa variável. Se a amortização for feita com um empréstimo a taxa fixa o prémio será de 2%.
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