Comecei a minha vida profissional como consultora na Deloitte e, na primeira semana, fui enviada para um cliente (a Opel) com a seguinte missão: contar carros. Durante semanas registei, num documento Excel do meu PC, a matrícula, o modelo, a cor e a cilindrada de todos os carros estacionados no parque de estacionamento da Opel. Logo ali tive oportunidade de perceber um dos fundamentos da gestão: como pudemos gerir seja o que for se não sabemos o que temos?

No longínquo ano de 1997, Sousa Franco, ministro das Finanças de António Guterres, chegou à arrepiante constatação: “O Estado não sabe o que tem, quanto tem, nem quanto deve. Estamos em 2025 e continuamos arrepiados.

Embora exista em Portugal uma Direção Geral do Património, não existe um inventário atualizado dos imóveis e demais recursos propriedade do Estado (nem sequer se conhece um inventário da frota automóvel). Os agentes do Estado entretêm-se a discutir o sexo dos anjos, a falar de malas no aeroporto, dos desvios no FCP (que são casos de polícia) e assim conseguem habilmente desviar-se das suas responsabilidades. Eu continuo à espera do dia em que alguém decida que chegou a hora de inventariar e valorizar o património do Estado! Dizem que os portugueses são de brandos costumes, mas isto já é abuso!

Tenho uma sugestão: que tal criarem um Grupo de Trabalho para averiguar de uma vez por todas o património do Estado? Todos os dias vejo responsáveis do Estado em frente dos holofotes, esticados para aparecerem, mas depois nenhum põe mãos à obra. Berram todos, mas ninguém quer tocar neste tópico. Para quando uma contabilidade patrimonial e reditual?

Quando eu andava na escola primária havia, ao lado de minha casa, um supermercado que, uma vez por ano, colocava na porta uma tabuleta a dizer “Fechado para Balanço”.  Lembro-me de nesses dias espreitar pelos vidros das montras do supermercado e de ver os três funcionários a contar os pacotes de farinha nas prateleiras, a contar pacotes de leite … e de os ver a anotarem tudo numas folhas de papel. Estavam a verificar e a registar o stock de produtos do supermercado. Durante uma semana aqueles funcionários conseguiam superar a tarefa.

Deixo aqui uma sugestão: façam como o supermercado ao lado de minha casa e fechem Portugal para balanço e apuramento de resultados (não seria apenas a Dra. Ferreira Leite a concordar comigo)! Não digo fechar, fechar… mas sim, que incluíssem na autoridade, competências e responsabilidades da Secretaria Geral uma missão, para finalmente se arrumar a casa – contar casas, verificar registos, desenterrar cadernetas prediais – … para se averiguar de uma vez por todas qual o Património do Estado. E com máxima urgência!

Será assim tão difícil fazer o levantamento completo do património do Estado?  Bom, o Almirante conseguiu vacinar Portugal inteiro, será que vamos ter de esperar que um Almirante venha liderar mais uma task force?  Será que vamos ter de pôr um Almirante a contar casas, terrenos e demais bens económicos do Estado?