A trilogia ‘políticos, banqueiros e gestores’ gozou de impunidade ao longo das últimas décadas por parte dos reguladores e, sobretudo, dos partidos políticos. Eram “os intocáveis”. A regeneração está a acontecer mas de uma forma muito lenta.

Nos últimos dias recebemos a acusação do que se quer imputar ao grupo GES/BES, e os elementos que foram dados à estampa têm tudo menos a novidade. A crítica comum foram os seis anos até chegar a este ponto e todos farão a crítica seguinte dos 10, 12, 15 anos para a conclusão do processo. Depois são as parangonas de algo como se fosse um exclusivo, caso do financiamento do grupo a partir de Angola ou da Venezuela. Constava mas, claro, faltavam elementos.

Estas conclusões, repetimos, têm tudo menos a novidade e aqui questionamos duas entidades: o regulador e os partidos políticos.

O regulador porque não é crível que só há seis anos se tenha apercebido de situações alegadamente irregulares neste banco/grupo e noutros e, por isso, atuou tarde. A cumplicidade criativa é possível durante dois ou três anos, não durante uma geração. Há outros que deveriam estar no rol dos acusados. Bem dizia Eça que Lisboa é uma aldeia com 150 famílias e todas vivem uma das outras, sendo que uns se calam e outros não.

No caso dos partidos políticos do sistema, também eles responsáveis, a questão que se coloca é – perante a regeneração a que temos assistido de grupos financeiros, banqueiros e gestores, a par da mudança de pessoas nos órgãos criminais – para quando a regeneração do sistema partidário como aconteceu em Espanha ou França? Os verdadeiros donos disto tudo estão no meio do naufrágio e no meio disto tudo.

António Costa quis fazer uma lavagem ao partido após a liderança de Sócrates, e Rio viu-se emparedado por antigos barões ainda do tempo de Cavaco e que agora são alvo de processos judiciais. Mas este não é o reset completo, pois em ambos os partidos continuam a dominar máquinas antigas e essas precisam de ser limpas. E, não esquecer, é preciso uma nova política adequada ao financiamento dos partidos.

Mas voltando aos casos mediáticos, resta saber se estas informações voltam a dar credibilidade à justiça, ou se o cidadão comum percebe que ninguém está acima da lei. Dou o exemplo da operação “Furacão”, desencadeada em maio de 2007 e desenterrada em agosto de 2014, o mesmo mês da resolução do BES. O cidadão português precisa de sentir que todos estão a ser tratados da mesma maneira e que o Ministério Público está a atuar de forma convicta.

Precisamos de afastar a indigência cultural do povo português e esquecer que enterrámos Camões a pedir esmola (através de um escravo) logo após o regresso da Índia. Foi à Corte, leu os Lusíadas a D. Sebastião e não obteve qualquer recompensa. Matamos os heróis nacionais e só os descobrimos tarde. O exemplo mais recente é o de Salgueiro Maia que foi ultrapassado por heróis mediáticos como Vasco Lourenço, Otelo ou Vítor Alves. Na atualidade passou a ter menos relevância o círculo de amigos do Chiado ou do Príncipe Real para tomar as decisões do país e este tornou-se bem mais democrático.