Para simplificar a realidade, temos o hábito de fazer generalizações, retirando conclusões gerais da análise de uma situação particular. A associação entre o Islão e o terrorismo é apenas um exemplo deste mau hábito. Do ponto de vista lógico, esta generalização não faz sentido. Existirão, no máximo, cerca de 100 mil terroristas islâmicos no mundo inteiro. Considerando que há 1,7 mil milhões de muçulmanos, os terroristas representam apenas 0,006% do total. Porém, a generalização Islão/terrorismo é cada vez mais frequente.
Um dos objetivos do radicalismo islâmico é precisamente promover esta generalização no Ocidente, unido os ocidentais contra o Islão e vice-versa. Não é em vão que a organização terrorista “Daesh” ou “Estado Islâmico” se apropriou das palavras “Estado” e “Islâmico”. O intuito é identificar-se como uma entidade jurídica estadual representativa de todo o Islão. Isto não faz qualquer sentido, pois o Daesh nem é um estado nem muito menos representa o Islão. Porém, todos os dias na comunicação social somos bombardeados com atentados e com as duas palavrinhas “Estado” e “Islâmico”. E todos os dias mais e mais ocidentais se convertem à islamofobia.
Na quinta-feira passada, o Daesh reivindicou mais um atentado na Europa. Desta vez, no coração de Paris. O terrorista baleou mortalmente um polícia e deixou outros dois gravemente feridos. Não é por acaso que este atentado aconteceu a poucos dias das eleições presidenciais francesas. Uma vitória de Marine Le Pen seria uma vitória do extremismo religioso e dos seus objetivos de fomentar um conflito de teor religioso.
A maioria das pessoas são politicamente corretas ao abordar o tema do radicalismo islâmico. Ninguém tem muita vontade de falar sobre o tema por medo, para evitar ser chamado xenófobo ou para não ferir suscetibilidades. Eu próprio, ao escrever este artigo, medi cada palavra, como em nenhum artigo anterior.
Julgo que a postura politicamente correta que estamos a adotar de não falar do assunto e assobiar para o lado está errada. A cada dia que passa vejo cada vez mais amigos meus partilharem conteúdos islamofóbicos através das redes sociais. Pessoas instruídas, com formação superior e com cultura, assumem a generalização Islão/terrorismo. Não são pessoas de estrema direita; não são populistas; não são ignorantes. São pessoas normais que sentem medo e querem respostas.
Para combater este problema é necessário iniciar uma discussão pública e informar os cidadãos das ações concretas que estão a ser tomadas; é necessário lançar uma campanha massiva de sensibilização para travar a islamofobia, como já fizemos com o racismo; é necessário ter políticas mais agressivas de integração de emigrantes e refugiados; é necessário intensificar as ações de segurança e o controlo das nossas fronteiras; é necessário chamar os muçulmanos para a primeira linha do combate à radicalização e à islamofobia…
Este é dos temas mais relevantes da atualidade. Porém, do ponto de vista político, pouco ou nada se tem discutido. É importante não esquecer que o terrorismo islâmico e a islamofobia vieram para ficar. Ignorar este problema é estender uma passadeira vermelha à extrema direita e contribuir para a concretização dos objetivos do Daesh.