No norte da Síria existem campos de detenção que acolhem milhares de pessoas com ligações ao Daesh. Segundo dados de setembro do Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas, estas pessoas encontram-se, maioritariamente, em três campos de detenção: Ain Issa, Roj e al-Hol. Juntos, estes espaços, albergam mais de 80 000 pessoas.

Uma grande percentagem corresponde a mulheres de guerrilheiros e os seus filhos. Sabe-se que a maior parte destas pessoas são oriundas da Síria e do Iraque, mas uma fatia corresponde a mulheres provenientes da Europa, a quem os seus países de origem negam o repatriamento, como se não fosse um problema seu. Além dos campos de detenção existem prisões onde se encontram os terroristas que combateram na linha da frente pelo Daesh. Dos mais de 6.000 homens e mulheres europeus que se deslocaram para a Síria e Iraque desde 2011, estima-se que, entre os sobreviventes, estejam detidos mais de 1.000, incluindo os seus filhos.

Além do combate à ocupação territorial terrorista, os curdos têm liderado estes campos e prisões e mantido a ameaça terrorista contida e longe do horizonte do Ocidente. Com a ofensiva militar turca, que já obrigou centenas de pessoas a abandonar as suas casas, alguns destes espaços podem perder a segurança e o controlo devido à deslocação dos guardas para a frente de batalha, levando à libertação de centenas de extremistas. Na verdade, foi mesmo isto que aconteceu num dos ataques liderados pela Turquia: cerca de 800 terroristas fugiram de uma das prisões para parte incerta. Isto significa que o controlo sobre o paradeiro e as atividades destas pessoas se perdeu.

Quando o Presidente Donald Trump afirma que os terroristas irão escapar para a Europa, como se os EUA estivessem livres desta ameaça, não tem em consideração um aspeto fundamental do terrorismo: este é, desde sempre, um fenómeno internacional, que afeta direta ou indiretamente todas as nações e que, nos dias de hoje, é voraz na utilização das novas tecnologias para os seus fins.

Há milhares de combatentes terroristas com treino militar, calejados pela violência e pela guerra, frustrados pela perda territorial, e que, por isso, esperam um momento propício para voltar ao combate e reunir o Estado Islâmico. Estas são também pessoas que podem recrutar, instigar e instruir ataques terroristas à distância, precisando apenas de acesso à internet e de pessoas para os praticar. Por estas razões, o combate ao terrorismo deve contemplar uma resposta orquestrada de forma global, unida e organizada. Sobretudo, uma resposta compreensiva e coerente.

Uma componente essencial desta resposta deveria contemplar ações concretas e multidisciplinares que previnam a radicalização, ou pelo menos o seu avanço, nestes campos e prisões. Não é um fenómeno novo que estes espaços são lugares privilegiados de escalada e reforço de extremismo. Por isso mesmo, o contraterrorismo deve agora também preocupar-se com as centenas de crianças que habitam estes espaços e que não conheceram outra realidade, senão aquela da guerra, do ódio e da violência indiscriminada como arma preferida dos extremistas.

Como parte do combate ao terrorismo, talvez seja mais eficaz repatriar, de forma controlada e ajustada caso a caso, os extremistas europeus e as suas famílias, do que perder-lhes o rasto. Se esta medida for adotada, os países poderão punir em conformidade e promover estratégias de abandono do terrorismo, mantendo estes indivíduos sob a alçada das forças e serviços de segurança. Além disso, poder julgá-las e aplicar-lhes medidas punitivas é uma oportunidade de reconhecimento do sofrimento das vítimas e de restauração da sua dignidade. Perder o rasto aos extremistas, significa também não fazer justiça às suas vítimas.

Por isso mesmo, ao contrário do que Trump afirma, a médio e longo prazo está em jogo a segurança e a paz não só da Europa, como também do resto do mundo.