Entre Março e julho de 2022 os bancos que pertencem à lista do BCE referente a instituições significantes, terão de realizar o teste de stress climático. Os restantes bancos, sob supervisão direta do Banco de Portugal, poderão também vir a ter de efetivar este teste, se forem convidados e estimulados para tal por parte desta entidade.
Este teste tem como objetivo compreender a vulnerabilidade dos bancos e a sua exposição aos riscos climáticos provenientes dos empréstimos concedidos, uma vez que os bancos centrais a nível mundial reconheceram, em 2019, que o clima constitui uma fonte de risco financeiro e, como tal, deve ser minimizado em prol da estabilidade das instituições financeiras.
É preciso der consciência de que o BCE considera este teste como sendo um exercício de aprendizagem para os bancos e supervisores, tendo como objetivos identificar as vulnerabilidades, melhores práticas e os desafios enfrentados pelos bancos. Os resultados deste exercício ajudará a aumentar a disponibilidade e a qualidade dos dados, permitindo aos supervisores compreender melhor as estruturas que os bancos estão a desenhar para avaliar o risco climático.
Nenhum impacto direto sobre o capital, por via das Orientações para o Pilar 2, está previsto. Um possível impacte a existir será indireto, através das pontuações do Supervisory Review and Evaluation Process (SREP) nos Requisitos do Pilar 2.
Estes testes, não sendo de simples realização, também não são a grande confusão que muitos pensam ser. Na realidade, este teste consiste na resposta ao módulo 1 e módulo 2 de questões, sendo que apenas alguns terão de responder ao módulo 3. O módulo 1 é um questionário qualitativo, com 78 perguntas, que tem como objetivo avaliar como os bancos estão a incorporar o clima na sua gestão de risco. O módulo 2 consiste na quantificação das emissões de CO2 associadas aos empréstimos concedidos pelos bancos a um conjunto especifico de atividades NACE também relacionadas com a taxonomia da EU, o que permitirá compreender a sensibilidade das receitas dos bancos aos riscos de transição. O cálculo das emissões de CO2 dos empréstimos pode ser complexo, e por isso o Crédito Agrícola foi o primeiro banco português a aderir à iniciativa internacional PCAF – Partnership for Carbon Accounting Financials – que disponibiliza uma metodologia usada a nível internacional por 183 bancos que ajuda a calcular essas emissões. Por fim, o módulo 3 requer que alguns bancos (não todos) realizem cenários para as seguintes situações ao nível do risco de transição: um aumento brusco do preço do carbono em 2022 e as consequências que isso trará nos próximos 3 anos; num contexto temporal até 2050 compreender o impacte para o rendimento do banco i) no caso de uma redução suave das emissões de CO2 atingindo-se a neutralidade carbónica em 2050; ii) no caso de uma transição não suave onde as emissões não descem o suficiente até 2030 mantendo-se a ambição da neutralidade carbónica em 2050; e iii) no caso de a neutralidade carbónica não ser atingida e de existir um confronto real com os riscos físicos climáticos que reduzem o PIB. Requer também a realização de cenários com base nos riscos físicos, de forma a calcular o impacte no banco de: i) existir uma situação de grandes inundações e ii) existir uma seca e ondas de calor significativas.
Toda esta abordagem de cenarização é nova para os bancos, mas também ela vai fazer parte do reporte obrigatório que as instituições financeiras e não financeiras terão de realizar em 2024 referente a 2023 no âmbito da Diretiva de Reporte Corporativo de Sustentabilidade, pelo que faz mais sentido todos os bancos, grandes e mais pequenos, iniciarem desde já este exercício, e começarem a preparar a informação que terão de reportar no âmbito da Taxonomia já em 2022.