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Exportações de têxteis vão voltar a cair este ano, mas Portugal ganha quota na Europa

A verificarem-se, as contas da ATP apontam para uma queda da ordem dos 3,5% face aos 5,7 mil milhões registados em 2023. O valor recorde de 2020, seis mil milhões, está longe, mas a indústria nacional está a ganhar quota de mercado na Europa.
12 Setembro 2024, 07h30

As exportações do setor têxtil português “não deverão ir além dos 5,5 mil milhões de euros no final deste ano”, segundo estimativas da Associação Têxtil e do Vestuário (ATP) reveladas ao JE pelo presidente da organização, Mário Jorge Machado. A verificar-se, este valor representará uma diminuição da ordem dos 3,5% em relação aos 5,7 mil milhões registados em 2023 – que já de si incorporava uma quebra de 5,6% face ao ano de 2022. Mesmo assim, segundo Mário Jorge Machado, as exportações portuguesas para a Europa – para onde se dirigem pelo menos 80% do total das vendas ao exterior – “continuam a ganhar quota de mercado, uma vez que o mercado europeu desce menos que a diminuição das exportações, cerca de 2,3%.

A desconfiança dos consumidores europeus – e também o facto de o dinheiro disponível ter ‘secado’ com o aumento das taxas de juro – “explicam em grande parte a diminuição das vendas de têxteis na Europa”, referiu o presidente da ATP, o que se juntam “as guerras e as eleições norte-americanas” como elementos igualmente perturbadores dos mercados europeus. Sinal mais negativo que a generalidade do mercado chegam da Alemanha: “o motor da Europa está em dificuldades e isso é um mau indicador” para todos os sectores. Até porque, convém não esquecer, os têxteis portugueses estão expostos ao sector automóvel como fornecedor: cerca de 1,2 mil milhões de euros dos quase 15 mil milhões que os componentes automóveis nacionais faturaram em 2023 são da responsabilidade do item ‘têxteis e outros revestimentos’.

Para Mário Jorge Machado, duas grandes alterações poderiam colocar a indústria têxtil portuguesa de volta aos trilhos do desenvolvimento: a alteração das regras das compras públicas na Europa; e a aposta na investigação de novos materiais, nomeadamente ao nível das biofibras.

Para Mário Jorge Machado, “não faz sentido que, como indica o relatório Draghi, cerca de 80% das compras de organismos públicos europeus sejam fechadas fora da Europa. Ora, isso coloca seriamente em risco qualquer ação que tenha em vista a reindustrialização da Europa”, alerta. É, por um lado, gastar fundos na reindustrialização e, por outro, retirar-se receita numa área que seria com naturalidade o seu mercado mais fácil de atingir.

Em paralelo, a economia circular pode auxiliar a indústria. “A produção de fibras com recurso a derivados do petróleo ou à produção agrícola, como o algodão, tem uma alternativa mais barata e de menor impacto no meio ambiente: as biofibras – que resultam do aproveitamento de tecidos em fim de vida, a que se acrescentam resíduos da agricultura”. Para Mário Jorge Machado, estando a investigação neste domínio a desenvolver-se exatamente no norte do país, é de supor que em pouco tempo seja possível á indústria aceder a esta alternativa como fator de produção. Neste momento, disse, apenas cerca de 1% das fibras usadas na indústria têm esta proveniência inovadora, mas a perspetiva é que possam crescer “para os 30 a 40%”.

Mário Jorge Machado chamou ainda a atenção para as virtudes da digitalização e da robotização do sector. Que, de modo geral, são duas: diminuem as necessidades de captação de recursos humanos – um problema que o sector enfrenta há já alguns anos – e permitem uma produção sem stocks (o que, do ponto de vista logístico, induz uma grande poupança.

As declarações de Mário Jorge Machado surgem na sequência da 64ª edição do Modtíssimo, a maior e mais antiga feira ibérica do sector. A feira – que tem lugar na Exponor esta quinta e sexta-feira – vai contar com cerca de 145 expositores, um número bem longe dos mais de 200 que estiveram na edição anterior, realizada em fevereiro do ano passado. A isso não será alheio o facto de a empresa que até agora organizava o certame, a Selectiva Moda, ser uma das que compunham o universo empresarial de Manuel Serrão, entretanto acusado de desvio de fundos europeus – num processo que começou no início do ano.

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