O mundo nunca mais voltará a ser igual. Se não estávamos preparados para enfrentar uma pandemia que virou o mundo do avesso, estamos, agora, mais adaptados do que nunca a uma vida numa bolha virtual, com as novas tecnologias a assumir um papel cada vez mais determinante na nossa existência.
Depois de meses a fio confinados entre quatro paredes, estudando remotamente, trabalhando remotamente e exercendo um sem número de outras atividades de forma não presencial, estamos conscientes de que muitas das ações que, num passado não muito longínquo, realizávamos fisicamente, não voltarão a ter essa mesma componente, ou ela terá um peso significativamente menor, pelo menos no que se refere à esmagadora maioria das pessoas.
A economia digital teve na Covid-19 um aliado de peso e foram desmistificadas muitas das ideias que ainda impediam que algumas das atividades económicas se realizassem mais massivamente através do recurso às novas tecnologias.
No entanto, desenganem-se todos aqueles que consideram que o mundo se resumirá a uma multiplicidade de cliques, com as pessoas a ficaram cada vez mais encerradas nas suas casas e o individualismo a ganhar terreno de forma avassaladora. Verificar-se-á exatamente o oposto. Na realidade, uma das lições que pudemos aprender com este amplo confinamento que fomos forçados a respeitar é que sentimos uma enorme necessidade, que muitas vezes tendíamos a desvalorizar, de contactar com outras pessoas.
Assim, quando as portas do mundo se voltarem a entreabrir, as amizades reforçar-se-ão de uma forma que se não pensava ainda há pouco possível, as pessoas valorização o convívio, os eventos culturais presenciais, os espetáculos desportivos, as viagens e o lazer.
O contacto com a natureza e o respeito pela mesma ganharão um protagonismo que pareciam ter desaparecido, fruto da reflexão que todos fomos forçados a fazer e da sensação de vazio que nos invadiu durante estes meses em que vivemos emparedados, sem poder desfrutar de algumas das coisas mais simples que o mundo tem para nos oferecer.
Afastado o temor de sermos infetados por um vírus desconhecido, capaz de encher as enfermarias dos hospitais, de sobrelotar os seus cuidados intensivos, de esgotar morgues e cemitérios, quando, num futuro que desejamos próximo, esta for mais uma triste história para contar às gerações futuras, como aconteceu com outras pandemias que mudaram a face do mundo no passado, teremos condições para, não esquecendo tudo aquilo que as novas tecnologias têm para nos oferecer, nos deliciarmos com muitos dos prazeres que havíamos praticamente ignorado, como uma boa conversa entre amigos, um almoço ou um jantar em companhia agradável ou aquelas férias que decidíramos adiar sucessivamente, optando por alternativas mais comodistas.
O dia seguinte será necessariamente diferente, mas, diferente para melhor, uma vez que estaremos, agora, vacinados para muitos dos vírus que teimavam em infetar a nossa existência, impedindo-nos de usufruir plenamente a nossa breve passagem pela Terra.