A Gallup cunhou um conceito para descrever este fenómeno: “The Great Detachment”, ou a grande desconexão. Se, no passado, os trabalhadores se despediam e procuravam melhores oportunidades, atualmente não é bem assim. Pelo contrário, experimentam uma sensação de desconexão e de desmotivação no trabalho, evidenciando dificuldade em mudar.
Esta dificuldade em sair do emprego atual pode, decerto, dever-se a razões financeiras ou à falta de oportunidades atrativas no mercado. Mas pode, também, associar-se a um desânimo geral, possivelmente ligado a um estado de “brainrot”, que tem afetado a sociedade.
Neste contexto, é fácil antever as consequências para as organizações, que enfrentam sérios problemas de quebra de produtividade e redução da capacidade de inovação.
A responsabilidade por esta falta de interesse e de desapego pode, sem dúvida, atribuir-se a um dos suspeitos habituais: a pandemia de COVID-19. Do ponto de vista económico, os mercados de trabalho conseguiram, de facto, recuperar da pandemia em menos de dois anos. No entanto, o impacto continua a sentir-se a nível estrutural e humano.
As empresas atravessaram mudanças organizacionais drásticas desde 2020, “com elevadas taxas de rotatividade e contrações”, como salienta a Gallup. Primeiramente, assistimos a uma tendência pós-pandemia conhecida como “The Great Resignation”. Neste caso, destacou-se a proatividade e a motivação dos trabalhadores em procurarem novas oportunidades.
Contudo, com o tempo, instalou-se um comportamento bem diferente, nomeado “Great Detachment”.
Durante este período, a adoção dos regimes de trabalho remoto ou híbridos, que de início foi muito aplaudida, transformou-se num dos motivos que contribuíram para a desmotivação no trabalho. Apesar das suas reconhecidas vantagens — por exemplo, no equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional (work-life balance) —, nem todos os trabalhadores conseguiram encontrar essa harmonia.
A desmotivação no trabalho pode, igualmente, ter origem noutros fatores, tais como:
Em suma, a desmotivação no trabalho resulta de um desfasamento entre as empresas e os trabalhadores. Esta problemática acarreta consequências negativas para a cultura organizacional das empresas, afetando também a inovação, a criatividade, os índices de bem-estar (mental e físico) nas equipas e a capacidade de progressão na carreira.
Quem lidera uma organização lida de perto com a importância central da promoção de um ambiente de trabalho positivo, envolvente e inovador. Assim, importa que a missão da empresa se alinhe com as aspirações dos profissionais que a formam — e que representam o seu mais importante ativo.
A melhoria da ligação entre o trabalho dos profissionais e a missão da empresa pode reduzir em 32% a rotatividade e melhorar em 15% a produtividade, de acordo com a Gallup.
Pois bem, o primeiro passo prende-se com a identificação do que realmente está a provocar a desmotivação no trabalho na sua organização. Neste quadro, importa considerar que os fatores mencionados não são transversais a todas as organizações. A título de exemplo, há empresas que não sentem os desafios do trabalho híbrido, não registando, portanto, quebras na produtividade ou um incremento das taxas de rotatividade.
Por fim, é crucial comunicar claramente as expectativas da empresa e valorizar o contributo de cada profissional, enfatizando o impacto do seu trabalho. Além disso, a criação oportunidades de desenvolvimento profissional e o estímulo à formação e à aquisição de competências são fatores determinantes para a criação de uma cultura corporativa que promova a saúde mental no trabalho.
Sendo certo que a desmotivação no trabalho é um desafio incontornável, a verdade é que pode, também, revelar-se uma oportunidade para fortalecer a cultura da empresa e melhorar o seu desempenho. Com efeito, é essencial agir e transformar este fenómeno num catalisador de mudança positiva.
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