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The Great Detachment: porque é que os colaboradores sentem desmotivação no trabalho?

Todos nós já sentimos dias de desmotivação no trabalho, com pouco entusiasmo para abraçar um novo dia. Contudo, para muitos, este desânimo revela-se uma presença constante, o que acaba por gerar graves repercussões para as organizações.
Rui Rocheta – Chief Regional Officer Southwestern Europe & Latam da Gi Group Holding
18 Fevereiro 2025, 07h55

A Gallup cunhou um conceito para descrever este fenómeno: “The Great Detachment, ou a grande desconexão. Se, no passado, os trabalhadores se despediam e procuravam melhores oportunidades, atualmente não é bem assim. Pelo contrário, experimentam uma sensação de desconexão e de desmotivação no trabalho, evidenciando dificuldade em mudar.

Esta dificuldade em sair do emprego atual pode, decerto, dever-se a razões financeiras ou à falta de oportunidades atrativas no mercado. Mas pode, também, associar-se a um desânimo geral, possivelmente ligado a um estado de “brainrot”, que tem afetado a sociedade.

Neste contexto, é fácil antever as consequências para as organizações, que enfrentam sérios problemas de quebra de produtividade e redução da capacidade de inovação.

O que está, então, na origem da desmotivação no trabalho?

A responsabilidade por esta falta de interesse e de desapego pode, sem dúvida, atribuir-se a um dos suspeitos habituais: a pandemia de COVID-19. Do ponto de vista económico, os mercados de trabalho conseguiram, de facto, recuperar da pandemia em menos de dois anos. No entanto, o impacto continua a sentir-se a nível estrutural e humano.

As empresas atravessaram mudanças organizacionais drásticas desde 2020, “com elevadas taxas de rotatividade e contrações”, como salienta a Gallup. Primeiramente, assistimos a uma tendência pós-pandemia conhecida como “The Great Resignation”. Neste caso, destacou-se a proatividade e a motivação dos trabalhadores em procurarem novas oportunidades.

Contudo, com o tempo, instalou-se um comportamento bem diferente, nomeado “Great Detachment”.

Durante este período, a adoção dos regimes de trabalho remoto ou híbridos, que de início foi muito aplaudida, transformou-se num dos motivos que contribuíram para a desmotivação no trabalho. Apesar das suas reconhecidas vantagens — por exemplo, no equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional (work-life balance) —, nem todos os trabalhadores conseguiram encontrar essa harmonia.

A desmotivação no trabalho pode, igualmente, ter origem noutros fatores, tais como:

  • Reestruturações abruptas, que frequentemente resultam em sobrecarga de trabalho ou incerteza económica;
  • Desencontro entre as expectativas dos trabalhadores e as da empresa;
  • Falta de clareza e de orientações sólidas sobre o contributo do trabalhador para os objetivos globais da organização;
  • Falta de ligação com a visão e a missão corporativa.

Em suma, a desmotivação no trabalho resulta de um desfasamento entre as empresas e os trabalhadores. Esta problemática acarreta consequências negativas para a cultura organizacional das empresas, afetando também a inovação, a criatividade, os índices de bem-estar (mental e físico) nas equipas e a capacidade de progressão na carreira.

Como combater o Great Detachment?

Quem lidera uma organização lida de perto com a importância central da promoção de um ambiente de trabalho positivo, envolvente e inovador. Assim, importa que a missão da empresa se alinhe com as aspirações dos profissionais que a formam — e que representam o seu mais importante ativo.

A melhoria da ligação entre o trabalho dos profissionais e a missão da empresa pode reduzir em 32% a rotatividade e melhorar em 15% a produtividade, de acordo com a Gallup.

Identificar as causas da desmotivação

Pois bem, o primeiro passo prende-se com a identificação do que realmente está a provocar a desmotivação no trabalho na sua organização. Neste quadro, importa considerar que os fatores mencionados não são transversais a todas as organizações. A título de exemplo, há empresas que não sentem os desafios do trabalho híbrido, não registando, portanto, quebras na produtividade ou um incremento das taxas de rotatividade.

Promover estratégias de desenvolvimento profissional e de bem-estar

Por fim, é crucial comunicar claramente as expectativas da empresa e valorizar o contributo de cada profissional, enfatizando o impacto do seu trabalho. Além disso, a criação oportunidades de desenvolvimento profissional e o estímulo à formação e à aquisição de competências são fatores determinantes para a criação de uma cultura corporativa que promova a saúde mental no trabalho.

Sendo certo que a desmotivação no trabalho é um desafio incontornável, a verdade é que pode, também, revelar-se uma oportunidade para fortalecer a cultura da empresa e melhorar o seu desempenho. Com efeito, é essencial agir e transformar este fenómeno num catalisador de mudança positiva.

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