(Ainda em fase de regresso, declaro-me solidária com Clara Sotto Mayor quanto ao inusitado processo disciplinar que lhe foi movido por um comentário numa rede social. Já sabemos como é que isto em Portugal funciona: uns juízes podem tudo, desde que o façam discretamente; outros não podem sequer expressar uma opinião sobre um caso que nunca lhes seria trazido a julgar. Por seu turno, não consigo deixar de ficar perplexa com as medidas atinentes à covid 19: doravante, enquanto se mantiver a situação de pandemia, empregadores podem a seu bel-prazer alterar horários e dias de descanso. Fica o registo e a confissão de quem se visa proteger, ainda antes da vaga de despedimentos que se prepara).

Enquanto escrevo, Ramalho está sentado na AR a apresentar pretensas explicações para os resultados da auditoria feita ao Novo Banco. Existem, porém, dois factos que, sendo indesmentíveis, podemos ser tentados a esquecer.

O Novo Banco foi-nos vendido a todos, incluindo por Ramalho, como consubtanciando o Banco Bom, existindo, portanto, um alegado banco mau que, por motivos que um dia se saberão, se tem mantido fora da órbita da atenção pública. Daí que não possa merecer outra reacção que não o profundo espanto que Ramalho, alegado mago da gestão e pago como Rei, venha agora dizer que, afinal, a carteira de crédito era péssima. Contudo, a maior perplexidade resulta da circunstância de nenhum dos senhores deputados lhe ter respondido.

Por outro lado, importa relembrar que, antes da auditoria ser conhecida, Ramalho e demais equipa que o acompanha considerou dever receber um prémio de gestão, a ser pago em 2021 mas atinente a 2019, no montante de dois milhões. Tudo não obstante o banco (bom, segundo eles…) ter registado neste período perdas superiores a mil milhões de euros devido ao impacto dos ditos créditos.

Ramalho gosta de ser pago principescamente, mesmo quanto a sua gestão é deplorável e causa prejuízos a todos nós, sob a invocação de que fez bons negócios (resta saber para quem…). Essa generosidade, contudo, não se estende além de si mesmo e dos amigalhaços, já que aos trabalhadores que tem vindo a despedir, sempre sob a justificação de que os resultados obtidos são péssimos, as compensações que se propõe pagar são para lá de ridículas. Isto é, a Ramalho e demais compagnons de route não lhes basta fazer-nos pagar os seus maus negócios, os prémios de gestão devidos por estes e os seus salários. Para eles, temos ainda que suportar as compensações aos trabalhadores de que se procura ver livre e as correspondentes prestações de desemprego.

A pergunta que deixo é até quando assistiremos a Ramalho a fazer de nós parvos, sem que alguém lhe entregue um modelo para o Fundo de Desemprego.