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The Inventors: “Processo educativo tem que acompanhar ao máximo o ritmo da mudança”

“A geração que está hoje no ensino básico vai enfrentar um mundo completamente diferente do que conhecemos hoje. Um mundo com uma, muito maior, aceleração digital. Onde os caminhos das relações de trabalho tendencialmente vão ser diferentes”, confessou José Malaquias, um dos fundadores do projeto The Inventors.
10 Novembro 2020, 07h50

O projeto português The Inventors, criado em 2016, vai receber 110 mil euros de financiamento após ter sido o único projeto português selecionado no concurso europeu Impacto EdTech, um programa que tem como objetivo ajudar as startups e PME a transformar ideias e protótipos em produtos finais para se introduzirem no mercado na área do ensino.

O Jornal Económico falou com José Malaquias, um dos fundadores do projeto The Inventors, que tem como objetivo fornecer soluções inovadoras às escolas portuguesas, estando a pensar nas crianças do amanhã que serão os próximos adultos com competências mais evoluídas.

Com o financiamento do concurso europeu, o projeto português terá acesso a serviços de mentoria educacional e empresarial, bem como recursos e serviços específicos para soluções-piloto.

The Inventors foi o único projeto português selecionado entre 380 candidaturas. Qual o sentimento de serem financiados pelo Impact EdTech?
Estamos num contexto em que a necessidade de encontrar novas soluções e tecnologias para a educação se tornou cada vez mais evidente. Desde meados de março que, em pleno confinamento, concentramos parte dos nossos esforços no desenvolvimento da nossa plataforma online que veio criar uma nova dinâmica às nossas atividades. Ou seja, veio permitir que estas começassem a ser feitas a partir de qualquer lugar e a qualquer hora, quer seja em casa, quer seja na escola. Tanto os alunos e as suas famílias como os professores ganharam acesso, no período de isolamento, a uma plataforma, online e gratuita. E, não menos importante, construída em tempo record para atingir aquela que sempre foi a nossa missão: inventar uma nação de inventores. Lançámo-la a 16 de março e, em menos, de um mês tínhamos mais de cinco mil famílias inscritas.

E por isso, encaramos que esta seleção é um reconhecimento de sermos uma das empresas europeias na linha da frente na inovação em educação, para preparar as novas gerações para um mundo cada vez mais desafiante.

Estamos também muito orgulhosos pelo facto de podermos representar Portugal neste círculo das melhores empresas europeias nesta área o que nos traz obviamente uma responsabilidade acrescida.

Onde e como será utilizado o financiamento do concurso europeu?
Este financiamento vai permitir-nos continuar a aposta na criação de ferramentas e preparar produtos para internacionalização. Importa referir que desde 2016, ano do nascimento da The Inventors, mais de 27 mil crianças de Portugal, mas também incluindo crianças de Espanha, da Holanda e do Reino Unido, já realizaram cerca de 340 mil projetos e experiências.

Sendo a Impact EdTech um programa de aceleração, vai proporcionar-nos acelerar o desenvolvimento deste negócio: vamos preparar a empresa para um teste de mercado através da realização de bootcamps especializados, formação específica no mercado alvo, e acesso a
investidores como forma para potenciar e catapultar o nosso negócio, que terá uma forte aposta na internacionalização. (Por isso nos chamamos The Inventors e não Os Inventores – só com a internacionalização, poderemos democratizar estes processos educativos).

Somos um laboratório para o desenvolvimento de produtos educativos nas áreas da engenharia, artes e criatividade. Desenvolvemos e fabricamos as mais divertidas e dinamizadoras experiências, sempre com a perspetiva de escalabilidade empresarial. E este financiamento surge na altura certa.

A plataforma online, focada nas famílias e na continuação das nossas invenções em casa – estamos atualmente a usá-la para o  desenvolvimento remoto das nossas atividades em qualquer local, para alunos, famílias, monitores e professores. A conjuntura mudou, logo o processo educativo tem que acompanhar ao máximo o ritmo da mudança. A forma como aprendemos mudou. Ontem, os professores ensinavam conhecimento que, supostamente, seria para a vida inteira. Hoje é preciso preparar os alunos para empregos que ainda não foram
inventados, para os problemas que ainda não surgiram. O que começámos assim a fazer no dia 16 de março vai agora ser acelerado com o “empurrão” europeu.

Que soluções tecnológicas pretendem aplicar à educação das crianças?
Nós criamos experiências educativas que trazem a tecnologia e as ferramentas criativas para as mãos das crianças, desmistificando e mostrando que todos somos capazes de criar e de inventar. Trabalhamos experiências nas áreas da engenharia, artes e criatividade. Estamos
empenhados em fazer chegar às nossas crianças experiências educativas que os preparem para os desafios do século XXI. E queremos fazê-lo através do desenvolvimento de ferramentas que leve até qualquer escola e família do mundo, as mais criativas e inspiracionais programas e
produtos nas áreas STEAM (Science, Technology, Engineering, Arts, Mathmatics).

As nossas atividades incluem, por exemplo, a criação de guitarras elétricas, pianos, jogos de tabuleiro ou candeeiros de LED eletrónicos.

O que devemos esperar da crianças de amanhã?
Será que quando terminarmos de ler este texto, o mundo, tal como o conhecíamos ou mesmo tal como o supúnhamos, ainda lá estará? Ou  terá já mudado, estará diferente, será completamente novo, ainda que o possamos reconhecer e ter a perceção de ser familiar?

Terá mudado de algoritmo e de ritmo também. As suas definições terão sido atualizadas e um sem número de updates terão já otimizado outras tantas funcionalidades e possibilidades ainda ontem apenas imaginadas. No tempo útil que nos está destinado, não há horas suficientes para tanta atualização, numa paisagem dominada por códigos onde a internet das coisas capacita qualquer objeto de algum tipo de ‘inteligência’, permitindo-lhes, às coisas, que comuniquem entre si e se autonomizem de nós, ‘simples’ humanos.

E isto é o pensamos do mundo hoje.

A geração que está hoje no ensino básico vai enfrentar um mundo completamente diferente do que conhecemos hoje. Um mundo com uma, muito maior, aceleração digital. Onde os caminhos das relações de trabalho tendencialmente vão ser diferentes. Há estudos que apontam que 65% dos trabalhos do futuro ainda não foram sequer inventados. O desenvolvimento de inteligência artificial e a automação vão destruir e permitir criar muitos mais empregos dos que hoje existem. Vai ser a geração que vai explorar Marte e, segundo Elon Musk, fundador da SpaceX, será a geração que irá criar a primeira colónia no planeta vermelho. Por outro lado, será também a geração que terá de enfrentar as crescentes consequências do aquecimento global e criar soluções para mitigar os seus efeitos.

Isto apenas para listar os desafios que conseguimos prever, faltarão os imprevisíveis. Para enfrentar um mundo cada vez mais dinâmico, há um crescente consenso sobre a necessidade de trabalhar competências intangíveis, como a criatividade, adaptabilidade, colaboração ou a
resiliência. É nessa área de desenvolvimento na educação em que nós os The Inventors estamos fortemente empenhados. Porque são essas as competências que estamos à espera das crianças, no futuro.

Quais as competências exacerbadas das crianças após o contacto com The Inventors?
A curiosidade humana, mais ainda a das crianças e adolescentes, é um incomensurável potencial cognitivo e deve ser estimulada e potenciada ao máximo.

Mais do que ensinar ofícios, há que ensinar aos alunos o enorme potencial que reside em cada um deles, permitindo-lhes experimentar as suas várias valências e a enorme capacidade que temos de aprender e de fazer coisas diferentes.

A par da lógica e do cálculo, dos novos saberes tecnológicos, da eletrónica, das artes, da filosofia, do desporto, da história, da matemática e da ciência, importa ensinar versatilidade e adaptabilidade, raciocínio crítico e desenvoltura mental. Só vingará quem melhor se adaptar e
essa é a mais fundamental das ferramentas. Toda e qualquer mudança implica inteligência emocional e adaptabilidade. Quanto mais célere for a nossa capacidade de adaptação à mudança, mais possibilidade teremos de desenvolver o nosso trabalho. Voltamos, portanto, às soft skills e ao elogio de competências bastante subvalorizadas, como a criatividade, o pensamento crítico, a paixão pelo fazer, a capacidade de aprender ao longo da vida, dando apenas algumas competências como exemplo.

Nós, nos The Inventors, temos vindo a desenvolver estudos no sentido de acompanhar e avaliar as atividades desenvolvidas. Em particular, estamos este ano letivo através das Academias Gulbenkian do Conhecimento e em parceria com o ISCTE a analisar o potencial impacto das nossas atividades nas competências sociais e emocionais, como sejam o pensamento criativo, resolução de problemas e autorregulação nas nossas crianças.

Esperamos também contribuir para uma maior disseminação dos resultados, para que a metodologia The Inventors possa a estar ao alcance do maior número de crianças possível. Paralelamente, pretende-se apresentar à Direção-Geral da Educação um programa que se constitua como uma aprendizagem essencial, integrado no currículo. Procurando promover, desta forma, uma cultura democrática, pelo acesso às práticas deste tipo de metodologia por todos os alunos do ensino básico.

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