A primeira-ministra Theresa May volta esta quinta-feira ao Parlamento Europeu para munir-se de ferramentas que possa exibir em Bruxelas na tentativa, aparentemente inútil, de convencer os seus (ainda) pares a manterem as negociações entre as duas capitais em aberto. Nas mãos tem apenas aquilo que o Parlamento já votou favoravelmente em 29 de janeiro passado, sendo incerto se há ou não alguma alteração – e, a haver, não é de monta.
Mas, alteração há na correlação de forças no interior do Parlamento – e mais uma vez quem sai a perder é Theresa May. Segundo a imprensa britânica, os partidários da linha dura ameaçaram infligir mais uma derrota na Câmara dos Comuns a Theresa May porque temem que o governo esteja efetivamente a excluir a possibilidade de deixar a União sem acordo.
Membros do European Research Group, liderados por Jacob Rees-Mogg (o mais duro dos duros), estão insatisfeitos com a formulação da moção de May porque endossa a votação do Parlamento contra qualquer Brexit sem um acordo de retirada.
A moção – que incorpora a chamada emenda Brady – aprovada em 29 de janeiro é favorável à tentativa de substituir o backstop da Irlanda do Norte por “acordos alternativos”, algo razoavelmente incontroverso até para os partidários do Brexit, mas foi também aprovada uma emenda que descartava o não-acordo: a emenda apresentada por Caroline Spelman (do Partido Conservador), “rejeita que o Reino Unido deixe a União Europeia sem um acordo de retirada e um quadro para o futuro relacionamento”.
É neste quadro que o grupo de Jacob Rees-Mogg está a planear votar contra ou abster-se esta quinta-feira, para causar mais um embaraço parlamentar à primeira-ministra. Citado por vários jornais, um deputado do grupo, Mark François, disse que muitos dos seus membros “não estavam dispostos a apoiar um movimento tão desajeitado” que efetivamente descarta o Brexit.
Segundo o jornal ‘The Guardian’, Theresa May e seu secretário para o Brexit, Stephen Barclay, não descartam neste momento a possibilidade de solicitar uma prorrogação do artigo 50, significando que o Reino Unido não sairia da União no dia 29 de março. Mas, até lá, acreditam que o grupo rebelde acabará por votar a favor no final desta quinta-feira.
Alguns analistas, entretanto, consideram que May só tem uma saída: apoiar, em conluio com o líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn, uma moção que aponte a permanência do Reino Unido na União Aduaneira como forma de travar a existência de uma fronteira física entre as duas Irlandas.
O ‘brexiters’ duros não querem ouvir falar em semelhante alternativa, mas a verdade é que, se os conservadores moderados votarem favoravelmente uma moção deste género juntamente com os trabalhistas, conseguirão com facilidade uma maioria confortável no Parlamento. Corbyn já o sugeriu a May, que até agora recusou a ‘tábua de salvação’, mas vários comentadores afirmam que a primeira-ministra – emparedada entre o fundamentalismo do grupo de Rees-Mogg e a indiferença de Bruxelas, acabará por ceder.
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