A paciente tem uma dependência crónica. É dívido-dependente. Para respondermos aos desafios financeiros e económicos que o Mundo, a Europa e Portugal atravessam, é fundamental compreender a natureza e as fundações do sistema monetário. O dinheiro é dívida. Criado a partir do nada pela banca comercial quando realiza empréstimos ou pelos bancos centrais. No actual sistema se não houvesse dívida (privada ou pública) não haveria dinheiro. Os banqueiros criam dinheiro e emprestam-no a quem querem, para as finalidades que acharem mais convenientes e lucrativas. Uma das causas da crise financeira internacional de 2007/2008 foi precisamente o excesso de crédito disponibilizado pela banca para investimento no sector imobiliário.

Actualmente a situação financeira e económica global é, na opinião de diversos analistas, preocupante. O crescimento económico é baixo e a dívida total (pública e privada) muito pesada. Debate-se a possibilidade de termos entrado num período de “estagnação secular”. Em vários países, a redução do endividamento privado tem sido realizada à custa de um maior endividamento público. A dívida tem-se movido do sector privado para o público e entre países. Por exemplo, a China está a endividar-se a um ritmo muito intenso. A nível global, a dívida total tem subido significativamente.

Tem-se argumentado que há um problema de falta de procura nas economias e que as políticas monetárias que têm sido seguidas (Flexibilização Quantitativa e taxas de juro de referência muito baixas) não são solução. Muitos economistas têm-se pronunciado por políticas alternativas. Uma alternativa seria usar dinheiro criado pelos bancos centrais para financiar directamente os défices orçamentais dos Estados. Outra possibilidade seria os bancos centrais darem dinheiro directamente às pessoas – a política do helicóptero de dinheiro.

A renegociação das dívidas públicas é um processo fundamental em qualquer cenário credível. Vários países (Islândia, Suíça e Reino Unido) já começaram a debater uma reforma de fundo do sistema monetário, que podia passar por retirar à banca comercial o poder de criar dinheiro. Contrariamente ao que muitas vezes se ouve no debate político existe(m) alternativa(s). Tem faltado vontade e capacidade política. Cabe aos cidadãos através do voto e de outras iniciativas fortalecer a TIA (“There is Alternative”).

O autor escreve segundo a antiga ortografia.