A Europa precisa de uma nova política industrial que fortaleça a inovação, aumente a produtividade e garanta a competitividade das suas empresas nos mercados globais. A Comissão Europeia que sair das urnas nas próximas eleições deverá mudar profundamente os seus planos para o desenvolvimento das empresas e, sobretudo, a forma em que limita o seu crescimento através da política de concorrência.
Embora o crescimento dos movimentos populistas monopolize a atenção mediática e centralize o debate público sobre o modelo de Europa que pretendemos, a mudança substancial dos critérios que, até agora, têm travado qualquer movimento significativo de consolidação transnacional entre grandes empresas deverá constituir um elemento prioritário da nova liderança continental.
Mas reavaliar as leis europeias de concorrência é uma missão extremamente delicada. Não é fácil escolher ganhadores sem criar excessivas distorções no mercado, correndo o risco de alimentar uma nova geração de dinossáurios acomodados, gigantes na sua dimensão mas falhos da agilidade e ambição que garantam a sua competitividade global. Os países asiáticos, com a Coreia do Sul à cabeça, têm sido um exemplo de como engendrar verdadeiros tigres empresariais através do alinhamento dos interesses de estado com a iniciativa privada, fomentando a procura permanente de inovação em detrimento da pura acumulação de poder.
Assim, o fortalecimento da inovação deverá ser um segundo eixo prioritário da nova comissão. A maior parte dos países europeus destaca-se no ritmo de adoção tecnológica, mas continua com aumentos modestos de produtividade porque a simples incorporação de ferramentas físicas sem investimentos comparáveis em intangíveis limita os seus efeitos. Como referiu Robert Solow, os computadores estão hoje por toda a parte menos nas estatísticas de produtividade. A acumulação de ativos não substitui os investimentos necessários em formação ou em propriedade industrial que são fundamentais para o aumento de produtividade. Por isso, nos EUA os investimentos em intangíveis superam já os investimentos em ativos tangíveis.
Adicionalmente, deverá ser necessário mudar a excessiva permeabilidade aos investimentos de capital exótico cujos estados não garantem a reciprocidade para as empresas europeias, com a China à cabeça. A Europa foi a metrópole industrial para as colónias asiáticas e agora está-se a converter na sua colónia digital, com graves consequência geopolíticas. Perdemos uma década porque confiámos que os EUA de Obama seriam o nosso protetor tecnológico, como antes foram com os seus exércitos. Mas a América de Trump é diferente.
As mudanças na economia requerem um ou dois lustros e os ciclos eleitorais são sempre mais curtos, mas a Europa enfrenta a necessidade de uma mudança industrial muito significativa para responder aos desafios geopolíticos com armas mais tangíveis que os seus valores. O foco no consumidor e no mercado deve conjugar-se com o realismo da geoestratégia, sob o risco de estarmos a alimentar tigres vegetarianos para concorrer na selva em que o mundo se tem transformado.