Quem não vota fá-lo em protesto. Tipicamente porque não se revê em nenhum dos partidos ou candidatos e entende que ao não votar demonstra o seu protesto. Mas os resultados têm mostrado que, ao invés, não votar, tem dado força ao demérito. Tem sido assim nas legislativas, (foi assim na famosa assembleia-geral do Sporting quando Bruno de Carvalho exigiu um mínimo de votos para se manter como Presidente), e foi assim nas eleições do Montepio.

O reduzido número de pessoas que votam face ao seu universo tem favorecido os candidatos que a priori, a maioria, quer destituir.

Sendo realidades e eleições cuja relevância e impacto não se comparam, o ponto é que a abstenção traz os mesmos resultados nos diferentes casos. Ou seja, vence o candidato que se quer derrotar.

No Montepio, dos 480.000 potenciais votantes, só 46.000 votaram, menos de 10%.  Foi reeleito Tomás Correia, para um quarto mandato à frente da Associação Mutualista, com menos de 3.000 votos a separá-lo do 2º candidato mais votado. Sobre Tomás Correia, sugiro a leitura do artigo do Paulo Ferreira.

As notícias que têm vindo a lume sobre o Montepio fazem-me recear o pior, com impacto duríssimo e repetido em todos os portugueses. A título de exemplo, lembro que em 2015 e 2016 a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) apresentava, nas suas contas consolidadas, capitais próprios negativos. Em 2017 a situação inverte-se porque a AMMG pede à Autoridade Tributária uma alteração do seu regime fiscal, que lhe permite beneficiar de créditos fiscais, reforçando assim os capitais próprios. Isto tem tudo menos relação com mérito da sua actividade ou qualidade dos seus activos.

Parece-me haver provas por demais evidentes que o não votar tem graves consequências. Porque será que as pessoas não votam? Acham que o seu voto não fará diferença? Não se revêm em nenhum dos candidatos? Consideram não haver consequências ou que, as havendo, não lhes podem ser imputadas? Não querem saber?

Em Portugal, após o 25 de Abril e naquelas que foram as primeiras eleições livres, a abstenção foi de 8,5%. Tem vindo sucessivamente a aumentar, tendo-se registado nas últimas legislativas, em 2015, um nível de abstenção de 44,1%. Pela primeira vez temos um governo em exercício liderado por um partido que não venceu nas eleições. Com uma inteligência política pouco comum, um jogo de cintura verdadeiramente circense e preocupações nulas com a realidade dos portugueses ou das contas públicas, António Costa precipita Portugal para uma nova crise.

Não me recordo em período algum de tão elevado número de greves e com origem em grupos tão diversos de profissionais. Eles são professores, estivadores, médicos, enfermeiros, juízes, técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, profissionais da CP, do metro, guardas prisionais… Dá-me ideia que só os deputados ainda não fizeram greve! Para além dos trabalhadores do sector privado, claro.

Na realidade, e voltando aos deputados, não faz sentido fazerem porque tudo o que poderiam reclamar, têm forma de obter. Além da remuneração, têm subsídios e regalias. Se não devem receber subsídios, mudam a morada e passam a receber. Não viajam mas recebem. Se precisam de faltar, alguém marca presença… Enfim, funcionam um bocadinho como aquelas festas em que se diz “o que se passa em Las Vegas fica em Las Vegas”.

Do lado de fora, onde estão os comuns mortais, os impostos são os mais elevados de sempre, os orçamentos são aprovados mas da sua execução já pouco se fala, as cativações nunca foram tão elevadas mas também não são postas em causa, há falhas em todo o sistema público, da saúde à justiça, protegem-se os animais mas declinam-se os idosos, até os bombeiros já se divorciaram da estrutura de autoridade da protecção civil… diria que nunca vi Portugal em tão mau estado.

As reformas do Estado continuam por fazer, a revisão da Constituição é assunto tabu, a oposição anda desaparecida… 44,1% não votaram e supostamente, consideram eles, que tal lhes dá legitimidade para reclamar ou para não se sentirem culpados. Mas não, meus caros, é ao contrário. Não só não têm legitimidade para nada, como arcamos todos com as consequências da vossa abstenção.

A abstenção não é a solução. Antes pelo contrário. E não há votos de protesto. Os tais votos de protesto têm dado belos resultados em outros países. Toca a votar!

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.