1. O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, mandou o seu secretário de Estado, Carlos Martins, demitir o primo, Armindo dos Santos Alves, dando seguimento às orientações do primeiro-ministro, António Costa, que havia, finalmente, produzido pensamento: questão ética é alguém nomear um familiar. E como isso tinha sido escarrapachado na comunicação social, ou seja, tinha passado à categoria de acontecimento oficial, não havia mais nada a fazer: despeça-se o primo! E qual primo? O que foi nomeado, claro. O primo nomeador ficou no posto, coitado, até se demitir num assomo de vergonha por ter sido incompetente: o que está certo, e rima com ética republicana, é pedir a outro governante que nomeie um primo nosso enquanto nós nomeamos um primo dele. É assim que o PS tem feito, e deve continuar a fazer, para não dar origem a falatórios. Percebam isso de uma vez!

2. A ida de Vítor Constâncio ao Parlamento agudiza-me a inquietação: as enormes responsabilidades inerentes à governação estão a dar cabo da saúde a muitos homens e responsáveis. Eu já tinha percebido isso com as firmas Granadeiro & Bava, Vara & Sócrates, (Carlos) Costa & Salgado e outras duplas famosas. Mas agora a coisa entrou numa nova dimensão com a tortura pública ao antigo governador do Banco de Portugal. Eu vi a aflição nos olhos do desgrenhado Constâncio, interpelado por coisas acontecidas há séculos e sobre papelada supostamente importante mas que obviamente ninguém lê, e muito menos ele que sempre teve imenso para fazer. As grandes organizações têm responsáveis suficientes para evitar que se aborreça quem está no cume da pirâmide. Por isso, Constâncio não sabe, não viu, não leu, não se lembra, e até me pareceu descortinar, no olhar e outros trejeitos, laivos de raiva lançados em direção a quem se importa com minudências, tantos anos depois. Ainda para mais os contribuintes até estão a pagar, de boa vontade e como sempre.

3. Os trabalhos da suposta comissão para a Ética estão a chegar ao fim, três anos depois. E com resultados dignos de registo. Saliento um, entre vários, relativo ao Estatuto dos Deputados. Advogados, economistas, gestores e outros representantes eleitos da Nação que já trabalhem assuntos financeiros podem continuar a fazê-lo em acumulação. Mais especificamente, os advogados que tenham ações contra ou a favor do Estado podem continuar a exercer nos escritórios de origem só tendo de passar a pasta desses processos a outros colegas. Acho justo estas propostas, porque a acumulação é permitida a deputados que sejam trolhas, estivadores, taxistas ou, até, a elementos de outras ainda mais velhas e dignas profissões. Igualdade, aliás, é isto: ninguém ser discriminado. Pode-se, portanto, ser incluído nas listas partidárias para ir para o Parlamento aprofundar temáticas, da EDP ou outras. O que não se poderá é querer aprofundar as tais temáticas se já se tiver entrado na casa da Democracia. Tenho a certeza que os partidos, todos, saberão lembrar-se deste pequeno contratempo quando estiverem a negociar apetites e ambições.

4. O embaixador Seixas da Costa forneceu o pretexto para Sérgio Conceição dar uma aula pública de diplomacia e educação. Quanto ao resto é normal. Cada vez que os políticos e outros requintados servidores da Pátria se dedicam à paixão do futebol parecem criaturas de volta aos exageros da infância. É uma sorte, sobretudo para eles, que não estejam, no âmbito do seu trabalho, mais tempo expostos ao escrutínio das câmaras e dos microfones. Pelos vistos, seria um desastre.

 

Álvaro Santos Pereira aproveitou mais uma requisição do Parlamento para pedir um Plano Nacional Contra a Corrupção e até sugeriu onze medidas. Os nossos estrangeirados devem mesmo achar que os deputados portugueses não têm mais nada que fazer.