Vladimir Tenev, CEO da corretora Robinhood, tem tanto de revolucionário como de controverso. A mais recente polémica prende-se com a intenção de disponibilizar tokens aos seus investidores oferecendo-lhes exposição a empresas privadas como a SpaceX e a OpenAI.
Mas a ideia anunciada por Vladimir Tenev, a 30 de junho, já levantou reservas por parte de reguladores e a um aviso por parte da OpenAI.
A OpenAI alertou, dias depois do anúncio de Vladimir Tenev, que não tinha qualquer tipo de parceria com a Robinhood para a disponibilização de tokens da OpenAI. A OpenAI reforçou, citada pela CNBC, que os tokens “não são ações” da OpenAI, e que “qualquer transferência de caputal da OpenAI requer a nossa aprovação”.
O porta-voz do Banco Central da Lituânia, Giedrius Šniukas, confirmou em julho, à CNBC, que contactou a Robinhood e que estava a “aguardar esclarecimentos” sobre a estrutura dos tokens de ações da OpenAI e da SpaceX, “bem como a comunicação relacionada com o consumidor”, disse o porta-voz do Banco da Lituânia, Giedrius Šniukas, à CNBC por e-mail.
“Só após recebermos e avaliarmos estas informações poderemos avaliar a legalidade e a conformidade destes instrumentos específicos. As informações para os investidores devem ser fornecidas numa linguagem clara, justa e não enganosa”, esclareceu Giedrius Šniukas, em declarações à CNBC.
O head of trading do Banco Carregosa, João Queiroz, vê esta possibilidade de um investidor de retalho poder ter exposição a empresas privadas como a SpaceX ou a OpenAI como “uma inovação que rompe, pelo menos em aparência, a barreira tradicional entre capital privado e investidores “não qualificados” (também designados por “não profissionais”)”.
João Queiroz considera que este modelo “democratiza o acesso” a ativos historicamente restritos, “permitindo participação num universo antes reservado” a fundos especializados ou investidores institucionais.
Mas existem riscos, alerta o head of trading do Banco Carregosa.
João Queiroz diz que entre os “riscos consideráveis” estão: a ausência de direitos societários, a dependência da valorização de ativos ilíquidos e não cotados, a potencial divergência entre o preço do token e o valor real da empresa, bem como a incerteza regulatória que poderá comprometer a liquidez ou até a validade legal do instrumento.
O head of trading em termos globais vê esta oferta por parte da Robinhood como uma proposta que “combina atratividade pela novidade e potencial de valorização”, mas que “exige do investidor uma avaliação racional, consciente e sem ilusões sobre a natureza subjacente” do produto.
João Queiroz considera que o anúncio do lançamento deste tipo de tokens, pela Robinhood, coloca a corretora como um “agente de disrupção” no cruzamento entre fintech, mercados de capitais e blockchain, conferindo-lhe um “argumento comercial difícil de replicar” no curto prazo, sobretudo pela banca tradicional, que está “sujeita a um enquadramento regulatório mais rígido”.
O head of trading do Banco Carregosa diz ainda que a Robinhood destaca-se não apenas pela inovação da oferta, mas também pela “capacidade de gerar entusiasmo e captar novos utilizadores” num mercado “já saturado” de produtos semelhantes.
“Esta iniciativa [tokens] pode alargar o seu alcance, reforçar a perceção de marca como pioneira e criar um ecossistema mais integrado entre investimento tradicional e digital. Contudo, a vantagem competitiva poderá revelar-se temporária se concorrentes, nomeadamente bolsas eletrónicas de criptoativos, replicarem rapidamente o modelo, ou se o escrutínio regulatório, incluindo potenciais alterações fiscais que agravem o tratamento tributário destes instrumentos, conduzir a restrições que comprometam a sua escala ou viabilidade”, alerta João Queiroz.
Independentemente da forma como se avalia a disponibilização destes tokens a investidores do retalho a realidade mostra que as ações da Robinhood têm estado em alta. Desde o início do ano já dispararam 167% e no espaço de um ano a valorização atingiu os 422%.
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