A política económica dos últimos tempos (“últimos” perde sentido quando já vamos em mais de dez anos) está a ter consequências não antecipadas.
Já não é testar os limites da Teoria Económica e desafiar a conventional wisdom pondo em prática o que vai contra as convenções; não é sorrir quando gente de sólida reputação técnica diz ou faz o contrário do que apregoou em décadas; não é ouvir explicações que só são dadas porque não aconteceu o que se disse. Caindo na pleonasmite, está a haver surpresas inesperadas.
Desde 2008 vivemos em crise intermitente. Perante o fracasso das políticas económicas convencionais, abriu-se a caixa de pandora das não convencionais, quantitative easing à cabeça. A economia foi dopada à quase overdose para evitar a morte súbita e entrámos na era do whatever it takes.
Os bancos centrais têm hoje uma pilha colossal de ativos financeiros e engordaram os seus balanços ao ponto de gerar a dúvida se são financiadores das empresas ou sócios. As taxas de juro estão aos níveis mais baixos de que há memória, o que está perto da época em que Cristo andava pelas ruas da Nazaré. E as bolsas atingiram recordes históricos com o recente melhorar das perspetivas económicas, neste mundo de Estados endividados.
As consequências de longo prazo estão por descobrir, mas não são piores do que não fazer nada e mergulhar no abismo.
Tudo fica mais interessante quando as coisas não “batem” certo: a inflação nos EUA atinge 5%, impensável há um mês, e as taxas de juro do mercado descem em vez de subir (caíram de 1,75% para 1,46%) enquanto a bolsa bate novos recordes. Isto porque a Reserva Federal não irá mudar a sua política monetária “mole” antes de setembro e porque se acredita (fé) que a subida da inflação é um efeito de nível, um ajustamento ao desconfinamento e a um ritmo normal de atividade económica e a consequência de ruturas de stock da retoma. Um sinal disto é estarmos longe do pleno emprego.
Mas esta economia do Dr. Pangloss tem consequências na juventude americana, que não deixarão de cruzar o Atlântico. Quando a bolsa sobe todos os dias e o dinheiro é barato, os jovens deixam os videojogos e jogam na bolsa. Com 15, 16 ou 18 anos, jogam à noite e nos “furos” entre aulas, seguindo a evolução da carteira no telemóvel, mais excitante que Roblox ou Fortnite.
Tudo vai neste sentido: as apps desenvolvidas a pensar neles, as youth accounts criadas por casas como a Fidelity Investiments para adolescentes entre os 13 e os 17 anos; as corretoras que praticam comissões zero, como a Robinhood. A questão é se um jovem compreende os riscos e custos quando aposta dinheiro que não teve que suar para ganhar.
A literacia financeira ganha compensa a distorção na atitude face ao risco? Este clima de ganhos diários na bolsa é o momento ideal de aprendizagem? Há 15 anos Jonathan Schwartz publicou um artigo sobre o jogo na Internet que faz pensar nos dias de hoje: “You click the mouse and bet the house”.