Sabemos que um dos problemas de Portugal é a sua baixa produtividade. Sabemos também que, por cá, trabalha-se, em média, mais horas do que nos países mais desenvolvidos.

Significa isto que o que temos que fazer em Portugal não é pôr as pessoas a trabalhar mais horas (seja no sector público, seja no sector privado), mas sim fazer com que a produção por unidade de tempo suba. Infelizmente, a produtividade em Portugal tem-se mantido relativamente baixa ao longo do tempo.

As causas disso são diversas, mas passam muito pela fraca qualidade da gestão das organizações (que tem melhorado pouco ao longo do tempo), pelas ainda relativamente baixas qualificações da mão-de-obra e pelos sectores de especialização de Portugal, que não são dos mais produtivos.

Dadas estas causas, o combate ao problema deve fazer-se através de uma revolução na gestão, de um aceleramento na melhoria da qualificação académica dos portugueses e de uma mudança nos sectores de especialização e tipo de empresa dominante.

Precisamos de organizações modernas, libertas de burocracias kafkianas, de autoritarismos despóticos ou de nepotismos corrosivos.

Isso significa acabar-se com a lógica das empresas familiares só para a família, das entidades públicas em que a gestão está bloqueada por legislação anacrónica ou as situações em que quem manda manda como lhe apetece, sem o mínimo de capacidade de potenciar os recursos humanos.

Precisamos também de acabar com as médias, pequenas e microempresas de amadores (na gestão e na execução) que, por estarem ligadas a sectores mais básicos, pensam que a qualificação da mão-de-obra não interessa (quando a verdade é que um trolha com o 12º ano de escolaridade será muito mais produtivo que um com a 4ª classe, para um mesmo nível de experiência profissional).

Todas estas transformações têm como objectivo tornar Portugal um país mais produtivo. Porém, o objectivo deve ser mais profundo. Uma vez que a actividade laboral ocupa grande parte da nossa existência, é fundamental que o trabalho não sufoque as outras dimensões da nossa vida, e que seja o mais prazenteiro possível.

Infelizmente, ainda há quem confunda produção com produtividade, e aja como um “novo rico” da produtividade, achando que o que falta aos portugueses é estarem a trabalhar 12h por dia. Que estupidez! Ninguém é produtivo durante 12h por dia, principalmente quando lidamos com as tarefas mentais de criatividade, atenção ou foco.

Por isso, temos que dizer claramente que o objectivo é outro: tornarmo-nos mais produtivos, para podermos ser mais felizes. Organizações bem geridas, com tarefas bem distribuídas, com pessoal adequado e com menos carga laboral é o caminho que devemos perseguir.

Mais, as incertezas que o futuro nos traz relativamente à capacidade de gerar novos postos de trabalho apontam na mesma direcção: devemos todos trabalhar menos mas melhor, e distribuir entre todos o trabalho existente (não uns no desemprego e outros a trabalhar 60h semanais).

Na prática, as 35h de trabalho semanal deviam ser já uma realidade em todos os sectores e, desejavelmente, menos ainda no futuro.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.