Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), os trabalhadores mais produtivos entre os países nela representados são do Luxemburgo, com 68.470 dólares produzidos por ano, seguidos dos suíços e dos noruegueses, sendo que todos eles são dos que menos horas trabalham no mundo. Portugal encontra-se entre os menos produtivos da OCDE, com cerca de 20.000 dólares anuais, e está também entre os países onde se trabalha mais horas.
Poucas horas, muita produtividade. Muitas horas, pouca produtividade.
Vamos então ver o que nos dizem estes números. Em primeiro lugar, a produtividade é medida em dinheiro. Tudo bem. As pessoas trabalham a troco de dinheiro, esse é o objetivo. Mas ponderemos no seguinte exemplo. Imaginemos que trabalha numa linha de enchimento de refrigerantes, que enche 1.000 garrafas por minuto. Se essa linha estiver localizada no Luxemburgo, o valor de venda dessas 1.000 garrafas será de, por exemplo, 1.000 euros. Mas, se essa linha estiver em Portugal, trabalhando exatamente ao mesmo ritmo e produzindo exatamente o mesmo produto, o valor de venda será muito menor.
Na realidade, a acreditar na OCDE, será cerca de 3,35 vezes menor, mais ou menos 300 euros, ainda que trabalhando as mesmas horas, na mesma linha de enchimento, produzindo a mesma quantidade e qualidade de produto. Isto significa que a produtividade não tem exclusivamente a ver com as pessoas, a sua educação ou esforço, mas muito mais a ver com o mercado onde exercem a sua função. Aliás, o exemplo não foi escolhido ao acaso e é mesmo uma feliz coincidência, pois mais de 20% da força de trabalho no Luxemburgo é portuguesa. Por cá é pouco produtiva. Por lá, é a mais produtiva da OCDE. O que faz a diferença é o país em si mesmo.
Como explicar isto? Pensemos um pouco mais. Os três países mais produtivos da OCDE são o Luxemburgo, a Suíça e a Noruega. O que têm eles em comum? Capital! Os primeiros dois porque são conhecidos paraísos fiscais. Os milhões de multinacionais e multimilionários estão aparcados por lá. A Noruega também tem excesso de capital. Porém por razões totalmente distintas.
A Noruega está longe de ser um paraíso fiscal. Mas é um grande produtor de petróleo. Tão grande que é senhora do maior fundo soberano do mundo, mais de 1 trilião (um milhão de milhões) de dólares investidos. A Noruega produz mais de 1.700 milhões de barris de petróleo por ano, mais que o Qatar. Portanto, o que diferencia luxemburgueses, suíços e noruegueses dos seus equivalentes portugueses é apenas o capital a que o seu mercado tem acesso, mesmo quando todos os outros fatores se mantêm iguais.
A conclusão é óbvia. Se o que tiver para vender for o seu trabalho, por muito que seja, num país como Portugal, a probabilidade que fique como está é muito grande. Remediado ou próximo disso. Mas, se tiver capital na Suíça, poderá calmamente vê-lo crescer, trabalhando pouco ou nada. Porque dinheiro produz dinheiro a uma taxa muito mais elevada que o trabalho. Ou seja, é-se mais produtivo a jogar golfe na Suíça que a trabalhar na Grécia. Literalmente. C’est la vie.