No meu ensaio “Turismo em Portugal”, publicado faz esta semana um ano, defendi que são as pessoas um dos factores que nos distinguem dos nossos concorrentes directos. Espanha, França, Itália e Grécia também têm séculos de história, com monumentos a condizer; também têm muitos dias de sol e calor e praias onde os aproveitar; também têm uma gastronomia afamada. Mas não têm portugueses. João de Barros (não o pioneiro da Gramática) dizia que somos naturalmente hospitaleiros e que gostamos de atrair estrangeiros; o seu artigo era num outro contexto, mas é igualmente verdade quando aplicado ao turismo. Mais recentemente, Garrett McNamara também veiculou esta ideia de que somos um povo acolhedor, que sabe e gosta de receber. E esta característica surge frequentemente nos inquéritos a quem nos visita, do Porto aos Açores, reportada como um dos aspectos que contribuiu para uma experiência agradável. Importa que assim se mantenha.

Recordo a propósito do Dia Internacional do Trabalhador, assinalado ontem, que quase um terço dos postos de trabalho gerados em Portugal, em 2016, foi no sector do turismo. Segundo os dados do World Travel&Tourism Council, o ano passado, a actividade turística foi directamente responsável por 8,1% do emprego, valor que sobe para os 19,6% se contabilizados os efeitos indirectos e induzidos. E esta relevância deverá aumentar, de acordo com o mesmo organismo.

Mas se o turismo é importante para o emprego, o inverso também é verdade. No ranking do Fórum Económico Mundial, os recursos humanos são um indicador onde aparecemos mais bem colocados que os países acima referidos, dando-nos uma vantagem competitiva face a eles. Talvez daí a minha surpresa ao descobrir que o vencimento médio no sector “alojamento, restauração e similares” não chegava, em 2015, aos 75% da remuneração mensal média para o total da economia. Era, na verdade, o sector onde ela era menor, abaixo mesmo do salário médio nas actividades relacionadas com “agricultura, produção animal, caça, silvicultura e pesca”. No entanto, uma análise mais fina revela alguns pontos curiosos. Por exemplo, quando olhamos para os dados separando homens e mulheres – convém lembrar que estas ainda ganham, em média, menos que aqueles –, o turismo abandona o último lugar. Será, pois, a elevada presença feminina no mercado laboral do sector (são 9 mulheres por cada 10 homens) a explicar aquela posição.

Por outro lado, se atendermos às qualificações, constatamos que são os profissionais não-qualificados e semi-qualificados e os praticantes e aprendizes a estar mais alinhados com a média da economia na respectiva categoria. Que isto não seja, de modo algum, interpretado como um desincentivo à formação. Pelo contrário, defendo que é preciso mais formação no sector (da que não comprometa a autenticidade). É fundamental ter cada vez mais pessoas qualificadas, o que contribuirá para elevar a qualidade do nosso destino, permitindo que o turismo traga mais rendimento. Fosse o indicador do Fórum Económico Mundial baseado na amabilidade e estaríamos no topo; do modo como é calculado, temos 26 posições para escalar.

A autora escreve segundo a antiga ortografia.

 

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