2017 é um ano primo. Logo não pode ser dividido por outro qualquer, sem ser pela unidade ou pelo próprio. Não sendo divisível, o ano potencia à partida muita divisão e pouca união. Será acima de tudo um ano de transição, dentro e fora do país.
O mundo anda estranho, instável e inseguro. Uma espécie de guerra fria se agiganta entre ameaças de expansão russa e retração americana. Onde o conflito na Síria não acabará e os extremismos encontrarão novas formas de fazer valer o terror.
A Europa, enredada em si mesma, ficará suspensa de eleições presidenciais e legislativas, e os nacionalismos e populismos vão espreitar e exercitar o medo como arma de condicionamento popular. A democracia será posta à prova de forma sistemática, seja em França, na Holanda ou na Alemanha.
A economia, como sempre, estará na primeira linha das preocupações quer em Portugal, quer pelo mundo fora. Internamente, continuaremos a conviver com a necessidade de criar emprego, promover crescimento, controlar dívida e reduzir défice, e tal não se modificará substancialmente no próximo ano.
As lideranças partidárias continuarão sem alteração até pelo menos 2018 e nem mesmo a realização de eleições autárquicas trará grandes mudanças ao cenário político nacional.
O Governo continuará a passar sem grandes crises ou mudanças. O primeiro-ministro António Costa continuará a acudir aos ministros mais apopléticos e não assumirá que tem alguns protagonistas sem qualidade e sem dimensão para governar.
A transição pior contudo será no mundo exterior. A ascensão dos populismos fizeram perder a perspetiva da globalização. Enquanto todos aguardam a efetividade da administração Trump e a alegada aliança tácita com Putin e os passos iniciais do processo do Brexit, os movimentos políticos serão táticos e de experimentação, enquanto o mundo se balanceará entre potências tradicionais, EUA e Rússia, Europa e China, pontualmente distraídas pelos países que espreitam: Brasil, Índia e Japão.
Não houvesse eleições em França e na Alemanha e seria, finalmente, o momento para que a Europa se afirmasse em matéria de política externa de defesa e segurança comum de uma vez por todas, enquanto protagonista, investidor e polícia. Mas teremos de esperar até outubro para ter clarificada a situação política. E por si só, a atual Comissão Europeia é demasiado frágil para agir.
O próximo ano vai ser sinónimo de mudança. Mudanças de protagonistas que evidenciarão alterações de políticas, mas também da forma de fazer política. A política tradicional vai sofrer um abalo significativo neste ano, que se tornará mais evidente nos anos subsequentes.
Não será impunemente que se abriram novas tendências no mundo, mas também em Portugal. O purismo das atitudes e a dureza das posições políticas serão substituídos pela condescendência e uma maior permissividade, em nome da conveniência política e da sobrevivência das instituições – precisamente o contrário do que se praticou em parte substancial da última década. Esquecendo princípios, e por recurso à crescente demagogia, muito será permitido perante a ascensão de extremismos, por enquanto ainda pacíficos.
A seguir, este ano de transição. Mas 2018 será bem diferente.