Quanto mais falamos em economia social e no 3º setor, mais devemos reforçar a importância de três grandes pilares em qualquer organização: a sustentabilidade, o profissionalismo e a prestação de contas como diretrizes que precisam de ser praticadas continuamente, priorizando a transparência nas organizações do 3º setor.
A sustentabilidade, enquanto pilar fundamental de subsistência para a manter viva a atividade de qualquer organização social, mas também para assegurar o cumprimento da sua missão e defesa da causa.
O profissionalismo, porque as competências, a seriedade e o rigor devem estar sempre associados a qualquer organização. Neste campo, o 3º setor deve apostar mais na sua profissionalização enquanto estrutura organizacional e capacitar os seus recursos em matéria de gestão.
E, por último, não tendo como objetivo o lucro, este tipo de organizações tem de ser o mais transparente possível enquanto usuária de donativos, financiamentos ou dinheiros públicos. Deve acima de tudo prestar contas!
Segundo um estudo recente da Universidade Católica Portuguesa, “A Importância Económica e Social das IPSS”, o panorama não é tão negro como se pensa. Em termos de liquidez, solvabilidade, autonomia financeira, o 3º setor está comparativamente melhor que o resto da economia. No entanto, é preciso que mais instituições publiquem as suas contas e tornem a sua gestão mais profissionalizada. Da mesma forma que se pede ao Estado que tenha um papel mais ativo enquanto agente fiscalizador para se evitarem episódios que, independentemente da sua veracidade, mancham ou mancharam a imagem deste setor.
É fundamental que esta interação funcione tanto do lado das instituições como do lado do Estado. É também fundamental que o Estado alivie alguns mecanismos e regras existentes, de forma a permitir que as instituições realizem uma rotação dos seus ativos de forma mais rápida e eficaz.
Segundo o mesmo estudo, grande parte do 3º setor não alavanca os seus capitais próprios no sistema financeiro e não faz uma rotação eficaz dos seus ativos, o que afeta diretamente a rendibilidade dos resultados líquidos e operacionais. Os resultados líquidos são na sua maioria negativos, dado o peso das amortizações, e a média do EBITDA (resultado operacional antes dos juros, depreciações e amortizações) deste setor ronda os 17%. O peso dos recursos humanos atinge em média os 60% e a comparticipação da Segurança Social é de cerca de 40%.
Outro indicador interessante, segundo o mesmo estudo, é o do efeito multiplicador do rendimento local. Em média, por cada euro captado para a localidade onde atuam, as IPSS multiplicam-no por quatro. O que desfaz a ideia das IPSS serem subsídio-dependentes. Os efeitos multiplicadores são surpreendentes. O setor na sua globalidade é saudável e não está em situação crítica de liquidez, mas precisa de melhorar muito as condições de rentabilização.
Em suma, para uma clara e competente prestação de contas no 3º setor é fundamental não só profissionalizá-lo, através dos Recursos Humanos e de ferramentas de gestão, mas também através da divulgação transparente e contínua dos seus resultados.
Só desta forma poderemos assistir a um desenvolvimento sustentado de toda a Economia Social a médio prazo. Em particular agora, numa altura em que as Empresas veem constituída a obrigação legal de respeitar determinadas quotas de emprego, e em que as organizações sociais são imprescindíveis neste processo para que a empregabilidade de pessoas com deficiência seja feita da forma mais eficaz, mas acima de tudo íntegra para a pessoa em causa.
Embora me orgulhe de fazer parte de uma organização como a APSA, que é certificada e que se rege pela transparência e rigor das suas contas, reconheço que ainda há muito caminho a fazer em matéria de gestão e profissionalização deste setor.