Hoje, terça-feira, haverá reunião da Comissão Parlamentar de Defesa. Esta reunião inclui a audição de Azeredo Lopes, estando na agenda o inacreditável dossier Tancos. Nunca será demais lembrar que Azeredo Lopes se tinha comprometido a entregar este dossier ao Parlamento até ao final de Fevereiro passado. O Expresso explicou agora, e com estrondo, o silêncio incapaz de Azeredo Lopes.

O país habituou-se a um Ministro da Defesa patusco, fértil em tiradas apatetadas e hábil em agarrar-se a quem manda. Numa altura me que a Saúde entrou em colapso, a educação segue sem rumo conhecido e as promessas de reposição não chegam, as enormes dificuldades e incertezas que os portugueses sentem no seu dia-a-dia distraem de matérias da maior relevância, como é o caso da Defesa Nacional. Entre as agruras que Centeno inflige, até se poderão rir com Azeredo Lopes e os seus números, mas é muitíssimo mais grave que isso.

A Defesa Nacional continua a ser uma das mais importantes pastas, por ser garante de soberania e segurança do Estado. Houve sempre uma tradição de linha coerente entre os diferentes partidos de governo em matérias de Defesa e Negócios Estrangeiros, pelas mais importantes razões. Deixar a Defesa Nacional nas mãos de um irresponsável é uma péssima novidade. Marcelo Rebelo de Sousa está a sublinhar isto publicamente pelos mais significativos motivos. Porque espera Costa para demitir Azeredo Lopes, se ainda não o tiver feito à hora da audiência?

O roubo de Tancos é matéria da maior gravidade. O ministro patusco começou por dizer que a sua responsabilidade política se resumia à coincidência temporal do roubo com o seu mandato! Estranhamente, ninguém o pôs no devido sítio na altura. Sim, a responsabilidade política é sempre de quem está em funções à altura dos factos, e isso não a reduz em nada, nem aligeira as consequências devidas.

De seguida, num número a lembrar os irmãos Marx, disse ao Parlamento que, no limite, poderia nem ter havido assalto, enquanto um amontoado de armamento aparecia num descampado a sul. Novamente, nada aconteceu ao exótico ministro, que convenientemente dava um triplo mortal à retaguarda para apoiar o socialista Manuel Pizarro no Porto.

Segundo o que o Expresso nos revela, e a preocupação do Presidente credibiliza, estamos perante um caso que põe seriamente em causa a segurança nacional e revela a absoluta incapacidade do ministro para o cargo. Sabemos que, primeiro com Rui Moreira, depois com Costa, Azeredo Lopes tudo faz para se agarrar ao poder. Ainda assim, o rol de trapalhadas sem fim impõe o fim antecipado do mandato. Já.

‘Trumpalhadas’ sem fim

Há em Portugal uma enorme confusão sobre a política americana. Um sector significativo da direita tende a defender os republicanos, porque estes se encontram mais à direita no espectro americano, enquanto o grosso da esquerda que não abomina os Estados Unidos tout court se mostra apologética dos democratas. Os únicos pontos reais de contacto são algumas das políticas de costumes, fora isso, o Partido Democrata está muito à direita do CDS nas matérias essenciais de governação, enquanto o Partido Republicano não tem paralelo na sociedade portuguesa.

São partidos diferentes para uma realidade social e económica radicalmente diversa da nossa. Ainda assim, uma certa esquerda aplaude o Obamacare sem saber do que se trata e uma certa direita defende as armas livres e desvaloriza os massacres nas escolas dos filhos dos outros. É este tipo de clubismo que tenta branquear Trump, inventando um personagem que não existe. Para estes, Trump mostra-se todos os dias ao mundo, desmentindo-os com a mesma eficácia com que 60 anos depois Estaline desmente cada comunista convicto.

A visita de Trump ao Reino Unido não só envergonhou os recalcitrantes que o apoiam, como, mais uma vez, envergonhou a América que se propôs voltar a engrandecer. Não foi apenas a imposição da boçalidade onde a etiqueta se exige, foi muitíssimo mais, foi a ingerência inadmissível que só se tolera aos inimputáveis. Escrevi aqui sobre a impreparação, insultuosa para Portugal, da visita de Estado de Marcelo, e da excelente resposata dada, mas nada comparável ao que assistimos na Grã-Bretanha.

Na sua incontinência verbal, Trump começou por pôr em causa a sua anfitriã, ao questionar sem legitimidade o modo como conduz o Brexit. De caminho, afirma que veria Boris Johnson, o grande irresponsável/responsável do Brexit e traidor de May, como um bom futuro primeiro-ministro; não admira! Ainda teve tempo para insultar a Rainha em Windsor, comportando-se como um primata na casa da civilização. Para terminar, não contente com o rasto de estragos da sua passagem, profana a poltrona preferida de Churchill deixando o Reino Unido em brasa e o Sir Winston às voltas no túmulo.

Trump anunciou entretanto a sua recandidatura. Entre a relação equívoca com Putin, a dependência de Nethanyahu e as mãos dadas com Kim, o negócio de família precisa de sobreviver e os seus capatazes têm ambição sem fim. Antes do povo americano o despedir, seria muito bom que o Partido Republicano se regenerasse, mostrando à América e ao mundo que volta a estar à altura da memória de Reagan e de tantos outros que realmente ajudaram a fazer a América grande.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.