Depois do pior Dezembro em 71 anos, os mercados financeiros iniciaram o ano com recuperações significativas. O ano promete continuar a ser volátil, mas com mais segurança, a de Trump.

Enquanto os mercados europeus, sem rumo político ou económico durante 2018, se limitaram a quedas sucessivas, o mercado americano mostrava-se robusto e a ganhar quota de mercado na capitalização mundial. Trump parecia estar a ganhar em todas as vertentes, económica, política e social, pelo menos até Outubro quando o mercado americano atingiu máximos históricos. A vontade para negociar com a China era pouca ou nenhuma, até porque 2018 foi um dos piores anos para o mercado chinês, que registou uma queda de 20%.

Dezembro foi, assim, essencial para a mudança de posição negocial dos EUA. A queda das bolsas americanas, praticamente até ao último dia do ano, foi indicativa das preocupações dos investidores, que se confirmaram quando a Apple, já em janeiro de 2019, apresentou uma revisão em baixa das suas estimativas de resultados. O impasse comercial tinha chegado aos resultados das empresas americanas, agora com perspectivas mais pessimistas quanto à evolução do futuro.

A violência da queda alterou também o discurso da Reserva Federal (FED), que é agora mais cautelosa. Por via dos mercados, Trump conseguiu o que queria: uma FED menos agressiva, quer na subida de taxas de juro, quer na forma como irá gerir futuramente o seu balanço. É muito possível que a FED suspenda a venda de activos no mercado, de 50 mil milhões de dólares por mês, dando algum descanso aos investidores e a folga que Trump precisa para emitir a dívida americana a custos mais acessíveis.

Estima-se que, entre necessidades de financiamento e défice, os EUA terão de emitir cerca de 1,7 biliões de dólares em 2019, para os quais são necessários investidores. Esta pressão sobre o dólar pode revelar-se nefasta para a frágil economia europeia, sem rumo nem recuperação após as sucessivas intervenções por parte do BCE, que já ultrapassam os 3 biliões de euros.

O ano começou com mais uma experiência europeia, a intervenção do BCE na Banca Carige, um banco italiano que não conseguiu reunir acordo entre os seus accionistas para um aumento de capital. Esta tomada do banco significa que a liquidação estará a cargo do BCE, mas não se estima que demore tanto tempo quanto o BES ou que tenha tantos custos para os contribuintes italianos. Com efeito, a Europa, que continua à procura de soluções, experimentando aqui e ali, não assegura o futuro nem a protecção dos seus cidadãos.

Este janeiro constataremos a diferença que fazem uns EUA fortes na economia mundial. Está a ser negociado um verdadeiro Tratado de Tordesilhas, no qual a Europa não tem futuro. E as eleições europeias irão deitar ainda mais lenha para a fogueira.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.