O PSD precisava de mudança. Os líderes têm um tempo e o de Passos tinha esgotado há muito. O PSD precisava de ser oposição para não deixar o palco à carismática Assunção Cristas, que convence o eleitorado antiesquerda mas não necessariamente do PSD.
O PSD precisava de uma equipa que o levasse com dignidade às próximas eleições depois da humilhação anunciada e comprovada nas autárquicas. O que o PSD definitivamente não precisava era de defender aumentos para a função pública e de um discurso tão corporativista como o da geringonça. O que definitivamente o PSD não devia estar a fazer é esta política de taberna, a criticar as injeções de dinheiro na banca quando foi com o PSD que foram tomadas as decisões que mais lesaram o setor.
O que o PSD devia estar a fazer não era recomendar usar um melhor desempenho das contas públicas para reforçar os vícios do Estado e de governos que promovem a desigualdade social e a crispação público-privado. Devia estar a questionar porque é que Portugal está entre os países que menos crescem na União Europeia – abaixo da média da Zona Euro. Devia questionar porque é que estamos a celebrar o maior crescimento da década quando continuamos com um dos piores desempenhos dos nossos pares, ultrapassados pelos países de sempre mas também pela Estónia, Letónia, Hungria e Croácia e por quem nos acompanhou nos resgates financeiros – Irlanda e Grécia. Sempre a bitola da mediocridade. Sempre o termo de comparação que favorece o statu quo.
O turismo está a bombar, o imobiliário está como nunca esteve. O consumo aumentou. O desemprego está no nível mais baixo em décadas. Porque não arranca Portugal? Porque pouco ou nada mudou. Assim que tiramos a corda do pescoço distribuímos pela máquina do Estado. Deixamos de fazer contas à vida e passamos a fazer contas ao dia. Chega para manter o défice controlado? Então não é preciso reformar. Não é preciso redimensionar as funções do Estado. Até podemos aumentar o seu financiamento. Aumentamos a carga fiscal de todos para poder aumentar os salários de alguns.
Diz Rui Rio que o PS não tem ambição. Que aumentar os impostos para as empresas não melhora a saúde da iniciativa privada. Que este Governo está a criar emprego “de baixo perfil”. Que este caminho “nada tem de sustentável”. Uma proposta? Aumentemos os funcionários públicos. Diga lá outra vez?
O que indigna é que seja Rui Rio a defendê-lo. Quando defende este caminho, que alternativa está a criar à geringonça? Como é que chegámos a este absurdo de Mário Centeno parecer mais interessado em manter a rédea curta do que a direita? Rui Rio defende pactos e certamente que o país aplaude consensos. Mas seria útil que levasse alguma coisa para consensualizar. O que uma direita cansada da geringonça não aplaude é a política da caça ao voto.
Esperemos que o problema do PSD não seja como os problemas do Sporting: seja quem for o líder, não ganha o campeonato.