[weglot_switcher]

Três jardins, três estufas, seis intervenções artísticas

O festival “Jardins Abertos” abre os portões dos jardins de Lisboa a todos os que querem descobrir as propostas que olham o futuro de frente em busca de novos modelos sustentáveis de vida no coletivo.
9 Março 2023, 18h14

O “Efeito de Estufa” nem sempre tem uma conotação negativa. Neste caso concreto é o nome de um programa interdisciplinar em que arquitetura, arte e paisagem natural da cidade de Lisboa contribuem para refletir sobre os desafios ambientais do presente, em busca de novos modelos sustentáveis de vivência em sociedade.

O futuro foi ontem poderia ser o mote da iniciativa “Jardins Abertos”. Três estruturas efémeras concebidas por ateliês de arquitetura vão servir de ponto de partida para seis artistas visuais, performáticos e sonoros desenvolverem as suas propostas. Três espaços verdes – Estufa Fria de Lisboa, Parque Botânico do Monteiro-Mor e jardins do Museu de Lisboa-Palácio Pimenta – vão servir de pano de fundo de performances, workshops e visitas guiadas durante três fins de semana de março.

Entre os artistas/performers desafiados pelo “Efeito de Estufa” figuram Bruno Huca, Ivo Meco, Patrícia Andrade, Mestre André e André Hencleeday, Nils Meisel, Rodrigo Pedreira, Ricardo B. Marques, Tinctorium Studio e o coletivo Os Espacialistas.

Sem revelar detalhes das intervenções que dão vida à edição de primavera dos “Jardins Abertos”, de 11 a 26 de março, podemos, contudo, dar algumas pistas sobre os três jardins onde vão decorrer.

Começamos pela Estufa Fria de Lisboa, um jardim coberto que nasceu no lugar de uma pedreira. Por decisão do então vice-presidente da Câmara de Lisboa, o arquiteto Raúl Carapinha desenhou um jardim para esta área, corriam os anos 30 do século passado, já a Avenida da Liberdade estava devidamente arborizada. Em 1933 era inaugurado o jardim, de marcada influência romântica, com mais de 300 espécies de todos os continentes.

A estufa propriamente dita só foi inaugurada mais tarde, em 1975, paralelamente à estufa doce, comumente chamada de zona dos catos. A estufa quente e a doce situam-se no ponto mais alto do edifício existente e foram construídas com pedras trazidas de Monsanto. A cobertura é feita de vidro para que a temperatura aumente naturalmente e as espécies tropicais se deem bem aqui. Aqui se encontram também 11 lagos, que aproveitam a água da nascente que levou ao fecho da tal pedreira.

Outro dos espaços escolhido, o Parque Botânico do Monteiro-Mor, corresponde a duas quintas de recreio autónomas: a do Monteiro-Mor e a dos Marqueses de Angeja. Em tempos localizavam-se para além dos limites de Lisboa antiga, no chamado “sítio do Lumiar”, como representativas de uma tipologia paisagística nacional, que perdurou por séculos. A criação deste jardim botânico tem a assinatura do naturalista Vandelli e é reconhecido pela extraordinária coleção de árvores e arbustos. Foi dirigido, entre outros, por botânicos famosos como Rosenfelder e Welwitsch e, ainda, por “jardineiros” como Jacob Weist, Otto e João Batista Possidónio.

Os jardins do Museu de Lisboa-Palácio Pimenta apresentam uma importante diversidade de espécies vegetais e animais, e proporcionam uma viagem às suas raízes e um encontro com personagens que foram fundamentais para a sua preservação: Manuel Joaquim Pimenta de Carvalho, um dos antigos proprietários e a quem se deve a designação do palácio, o engenheiro Jorge Graça e o arquiteto Raul Lino. Entre os séculos XVIII e XXI muito aconteceu por aqui, com destaque para a fauna e flora em cerâmica, cortesia da imaginação prodigiosa de Rafael Bordallo Pinheiro.

Como tudo começou

A primeira edição dos “Jardins Abertos” decorreu em maio de 2017 em formato de percurso e com uma equipa muito reduzida. Nas primeiras 48 horas houve mais de 3.000 inscrições para apenas 80 vagas! No ano seguinte, a organização passou a ser feita em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a proposta expandiu-se. Ou seja, o número de jardins aumentou para 23 e foram incluídas na programação atividades pedagógicas e culturais para todas as gerações, que envolveram mais de 8.000 participantes e uma equipa de 30 voluntários.

Em 2019 o projeto recebeu o Alto Patrocínio do Presidente da República e, com o apoio da CML, desdobrou-se em duas edições: primavera e outono. Cresceu naturalmente, à imagem de uma floresta, e registou mais de 25.000 participações em ambas edições.

Em 2022, chegou a um número redondo: dez edições. Este ano, regressa na versão primavera e outono, e quer continuar a surpreender os lisboetas e todos os que se deixarem imbuir por este “efeito de estufa”.

Consulte aqui a programação completa.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.