Com o passar dos anos de trabalho, é inevitável contactar com projectos que não correm bem. Quando tal situação me aconteceu há uns anos, acompanhei, com tristeza, o definhar de amigos e colegas, gente que fui aprendendo a admirar, impotentes em alterar o rumo que parecia estar traçado. Foram tempos difíceis, para dizer o mínimo.

Não é possível evitar a dor que advém dos sentimentos de frustração, incompreensão e até injustiça. Porém, eis a ironia da vida: é nos momentos duros que se aprendem as melhores lições e se ganham resistências para o futuro.

Uma daquelas bem duras que aprende quem falha é que ninguém quer verdadeiramente saber porque se falha. Quando os projectos correm mal, há sempre várias razões, mas todas parecem fracas. Falhou – tudo o que interessa está dito. Outra é que, de facto, se vive num mundo em permanente mudança e que nada está seguro. Os heróis de ontem são os vilões de hoje e ninguém sabe quem será quem amanhã. Todos os dias se deve preparar o futuro que se quer.

Muitas mais lições haveria a acrescentar. As duas primeiras têm um corolário comum. É que cair é mau, se bem que, muitas vezes, inevitável. Mais importante, porém, é levantar, sacudir a poeira e continuar.

Recordo ver isto num grupo de resistentes que, naquela altura, arregaçando as mangas, foi à luta para continuar a fazer aquilo que sabia e de que gostava. Gente que acreditava nas suas capacidades e que insistiu em provar que havia espaço para si no mercado. Começaram do zero e, uns de uma maneira, outros de outra, reactivaram a actividade. Já passaram seis anos mas continuam por aí, com muita gente a torcer por eles.

Também hoje em dia, nesta casa, há um novo começo que se desenha, com novos resistentes, que, com garra e vontade de fazer aquilo que sabem e de que gostam, visam preencher um espaço que os leitores valorizam. Estes sentimentos vêm da consciência de que a capacidade de fazer a diferença existe permanentemente dentro de cada profissional, e em especial num jornal, cujo produto final é um esforço colectivo mas onde a contribuição individual sobressai com a possibilidade de criar ligações entre autores e público. Quem, entre os leitores, pode dizer que não tem uma secção, um autor, com quem se identifica e que o faz voltar sempre com curiosidade, como se de velhos amigos, seguramente de velhos conhecidos que sabe bem rever, se tratassem?

É nesta capacidade de criar ligações que o jogo se decide. Que a esta consciência e a este espírito renovado se junte muita sorte, são os votos que envio a todos neste novo jornal. Há muita gente a torcer por vós.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.