Está um novo ano ao virar da esquina. Se tudo correr bem, é o ano em que a política económica se aproximará da normalidade. Estão aí os primeiros sinais: a Reserva Federal americana já disse que o Quantitative Easing vai acabar – anunciou até a aceleração do phasing out – e as taxas de juro subir, por três vezes em 2022. Não é para menos. Com a taxa de inflação a 6,8%, o valor mais alto em quarenta anos, poucas alternativas restam. A FED prepara um soft landing, com uma abordagem gradual e uma estratégia anunciada para controlar as expectativas e manter os mercados monetário e financeiro sem perturbações de monta. Para já, esta abordagem prudente tem dado resultado, e é a mais eficaz para manter margem de manobra quando a evolução da pandemia tem substancial incerteza.
Ao contrário de tudo o que se especulava, o euro provou ser um instrumento eficaz para lidar com as crises. Foi O cimento que permitiu coordenar a resposta à crise grega, apesar do que foi feito para o desestabilizar (não foi só Varoufakis, atual membro da Frente da Desobediência Realista Europeia). E esteve na primeira linha da luta económica contra o COVID. Provou ser um património europeu comum, que interessa preservar; até Matteo Salvini o defende calorosamente – já em outubro de 2019 dizia que esperava que ninguém no seu partido pusesse em causa a permanência da Itália na moeda única. A reposição do PEC, suspenso durante a pandemia, implica um repensar de regras da política económica europeia e que lhe são, a ele, euro, indissociáveis. Vai ser de grande importância seguir em 2022 o redesenho das regras; o artigo de Macron e Draghi no Financial Times constitui uma primeira tomada de posição que o mostra bem.
Num cenário em que as divergências de situação económica são ainda significativas na União, coisa que o COVID não facilitou, alterar regras de política económica tem que ser feito com inteligência e responsabilidade, para estimular investimento e crescimento sem pôr em causa a coesão. Será impossível agradar a gregos e troianos. Mas nestes tempos em que tudo está posto a teste, será talvez a altura de procurar só não desagradar muito. Dois problemas estão no horizonte: a dívida pública em percentagem do PIB subiu substancialmente durante a crise do COVID-19, e no fim de 2020 sete membros (incluindo metade dos fundadores) tinham dívidas acima de 100% do PIB; e uma subida das taxas de juro pode criar stress na União pelo peso (desigual) que coloca sobre as finanças públicas: um aumento de um ponto da taxa de juro num ano (como poderá acontecer nos EUA) significa, numa dívida de 100% do PIB e num par de anos, um aumento do encargo com juros de perto de 1% do PIB. Isto com o adicional de a inflação ser uma forma de tributação regressiva. A redução da dívida pública é, também, defender os rendimentos das famílias e preservar a competitividade das empresas. E permite guardar alguma, pouca, margem de manobra não vá o COVID fazer das suas. Merece ser prioridade da Europa, não apenas de um País.