A comparação da política económica e fiscal que se desprende do Orçamento do Estado português para 2017 com as propostas económicas do candidato republicano às próximas eleições americanas, coloca Costa e Trump em extremos opostos. Mas, embora possa parecer surpreendente, isso não é necessariamente um elogio para o primeiro-ministro português.

Apesar das propostas de Donald Trump para promover o crescimento económico serem difíceis de precisar, a sua política económica, nomeadamente ao nível do desenvolvimento do mercado interno, não é tão disparatada como o resto das suas ideias e da sua própria figura.

Trump tem sido inconstante e conhecem-se poucos documentos com medidas económicas concretas, mas há pontos que se repetem nos seus discursos e que demostram, na minha perspetiva, uma postura sólida no âmbito económico interno e uma política económica desastrosa no que respeita ao comércio exterior, aliás não muito diferente do desprezo com que o candidato republicano se refere a tudo o que acontece além das fronteiras americanas.

Em relação ao desenvolvimento do mercado interno, Trump parece privilegiar as pequenas empresas em detrimento das grandes, o que não surpreende porque, à luz dos dados publicados no Financial Times, os proprietários de pequenos negócios representam uns surpreendentes 40% dos seus apoiantes. Nesse sentido, Trump pretende reduzir impostos em benefício das empresas locais. É a trasladação para a economia do seu lema de campanha: “America First”.

A aposta no investimento público em infraestruturas também deveria beneficiar indiretamente as pequenas subcontratadas; o problema de fundo é que essas infraestruturas, além dos típicos projetos viários, contemplam a construção de elementos tão ignóbeis como os badalados centros de detenção de imigrantes. E, com menos imigrantes, a tendência será o aumento do custo da mão de obra e a perda de competitividade externa dos produtos americanos.

De forma coerente, a política comercial externa de Trump diminuiria a abertura do país ao exterior, com o aumento das taxas alfandegárias e a renegociação dos acordos comerciais internacionais. Neste âmbito, o candidato conjuga o espetáculo e a demagogia com a promessa de que o fecho das fronteiras representa o regresso a um passado dourado, em que a sociedade ocidental era rica, limpa e estável.

Trump promove a diminuição de impostos, os grandes investimentos em infraestruturas e o fecho das fronteiras comerciais americanas. Costa propõe o oposto. Trump oferece certezas e agrada aos pessimistas, maioritariamente pobres, porque desafia os plutocratas. Costa, pelo contrário, vê-se obrigado a navegar na ambiguidade para capear os desafios de um contexto incerto e das pressões opostas vindas de Bruxelas e dos seus sócios de governo. E, assim, consegue deixar-nos a todos confusos sobre se gostamos ou não do seu orçamento.