Donald Trump abandonou a defesa do mundo livre, acusou a Ucrânia, país invadido, de ser o agressor e pôs em causa a sobrevivência da Ucrânia e da própria NATO.

A União Europeia enfrenta um dilema: ou constrói uma força autónoma de defesa credível ou torna-se irrelevante. É preciso construir uma indústria de defesa pan-europeia e aumentar os gastos militares. A actual capacidade militar europeia é insuficiente para ajudar a Ucrânia. Por exemplo, temos modernos aviões de combate, mas falta-nos as munições capazes de destruir defesas antiaéreas.

A Comissão Europeia (CE) resolveu começar por anunciar um gasto de 800 mil milhões de euros, mas sem ter previamente feito um programa credível para construir essa indústria pan-europeia. Esta patética CE, que só se preocupava com o Green Deal, deveria dinamizar um ambicioso programa europeu para as indústrias de defesa, estimulando a formação de consórcios entre empresas e universidades europeias para o desenvolvimento e produção de tecnologias militares, privilegiando o conceito de indústrias duais.

Convinha também pensar em aproveitar capacidades que ficam ociosas, por exemplo, na indústria automóvel, para produção de equipamentos militares.

Precisamos de um mercado único para a defesa, aumentando a concorrência entre fornecedores, o que aumentaria as capacidades militares por euro gasto e, também, de compras conjuntas a nível europeu, o que harmonizaria os standards entre os exércitos dos estados-membros, minimizando a actual dispersão e levando a ordens de compra de maior dimensão, conduzindo a menores preços unitários.

A maior parte do equipamento militar americano que não temos, tais como satélites de partilha de intelligence e mísseis hipersónicos, não poderá ser produzido por um estado-membro sozinho, precisa de um esforço pan-europeu.

Acresce que o esforço financeiro de cada estado-membro tem de ser complementado por um fundo europeu focado em promover compras pan-europeias e em apoiar os estados-membros mais vulneráveis financeiramente neste esforço conjunto de rearmamento. Portugal só terá gasto, em 2024, em defesa, 1,6% do PIB, o 7º mais baixo da NATO, com o peso do pessoal a atingir a maior parte (60%).

Portugal já tem um cluster para a aeronáutica, espaço e defesa, e competências para esta aposta, designadamente nos drones, na construção e reparação naval, no espaço, na robótica, nos materiais avançados, TI, têxteis e calçado.