Martin Wolf, colunista do “Financial Times”, publicou um artigo bastante duro esta semana. O título diz quase tudo: “A previsibilidade é a vítima das ameaças das tarifas de Trump”. Os avanços e recuos nas tarifas e a prolificidade de ordens executivas e ameaças, bem como o espectro dos temas de intervenção fazem temer qual será a novidade do dia seguinte.

Os analistas já vaticinavam que seriam anos mais turbulentos e incertos. Mas uma coisa é antecipar o cenário e outra é vivê-lo. A imprevisibilidade dificulta os processos de decisão e é desconfortável, o que poderá gerar tomadas de posição mais impulsivas. Além disso, havia algum infundado otimismo de que Trump fosse menos assertivo neste seu segundo mandato, o que não está a acontecer.

As ameaças de Trump são para levar a sério ou trata-se “apenas” de bluff, numa espécie de bullying económico? É tentador acreditar que são armas de arremesso, com o objetivo de gerar posições de domínio na relação com os outros, mas o dinheiro a ser recolhido através de direitos alfandegários seria de grande utilidade para um país endividado, com elevados défices orçamentais e onde há promessas de descida dos impostos.

Para já, o único país a quem foram realmente impostas novas tarifas foi a China e isso terá um significado. E também é certo é que os ressentimentos quanto aos EUA estão a aumentar. A perceção de que os EUA defendem o “cada um por si” gerou-se em dias, mas pode demorar anos a superar.

As posições de Trump não são alinhadas com o seu objetivo de manter o dólar no centro do sistema financeiro mundial. O mundo prefere dólares por vários motivos, mas a estabilidade e o respeito pelo “Rule of Law” são características centrais. Além disso, um dólar forte não é compatível com a promoção de equilíbrio da balança comercial.

Os mercados têm sido moderados na reação às primeiras semanas de Trump. As bolsas americanas, que não estão baratas, mantêm-se perto de máximos históricos e reagiram de forma resiliente ao anúncio de tarifas. O dólar, depois de ter valorizado desde outubro, estabilizou com o mercado a tentar compreender se a Fed será mais sensível aos riscos de subida da inflação ou aos de desaceleração da economia. As taxas de juro de longo prazo desceram nas duas últimas semanas, mostrando mais preocupação com o crescimento do que com os preços.

O grande vencedor de 2025 tem sido o ouro, que já valoriza mais de 10% este ano. A procura por refúgio em tempos de incerteza económica e política tem justificado esta aceleração no preço, que parece ainda não ter terminado.