O primeiro mandato de Trump mostrou uma grande diferença entre as expectativas e a realidade, mas desta vez Trump tem mais condições para ser um agente de mudança. Ainda assim, os primeiros dias foram de notória assimetria, agindo prontamente em alguns campos emblemáticos, mas sendo menos assertivo em temas como as tarifas e a Ucrânia. Que efeitos terá Trump em Portugal? Especulemos.
1. Tarifas e exportações
Trump avisou que poderá aplicar tarifas, provavelmente de 10%, às exportações provenientes da União Europeia. Algo será provavelmente implementado, mas não se sabe nem como nem quando. Por outro lado, se os EUA pretendem exportar gás de forma massiva para a Europa, poderá ser necessário diminuir a assertividade nas tarifas. A ver vamos.
Os dados compilados pelo BPI, INE e Banco de Portugal mostram que os EUA representam 7,1% das exportações portuguesas de bens – é o 4º maior mercado de Portugal. A indústrias mais expostas são as de produtos farmacêuticos, derivados de petróleo, têxteis, madeira e derivados e produtos de borracha e metal. São setores em que existe indústria concorrente no EUA e estão em risco. Se o dólar continuar forte, o efeito das tarifas será mitigado, mas é certamente um foco de preocupação.
2. Turismo e investimento
Os turistas dos EUA são responsáveis por 10% das receitas turísticas em Portugal. Em princípio, Portugal não será afetado pelas políticas de Trump, a não ser que a economia dos EUA entre em recessão ou haja algum limite de circulação de pessoas, o que é improvável. De resto, se o dólar se mantiver forte, o turismo até poderá beneficiar.
A mesma lógica aplica-se ao investimento. Os EUA valem quase de 2% do investimento direto estrangeiro e 4,6% do stock de investimento imobiliário, quotas que podem aumentar nos próximos anos.
3. Europa e defesa
A União Europeia não agrada particularmente aos EUA de Trump. O momento da UE não é dos melhores, dada as dificuldades, diferentes, mas evidentes, das três maiores economias: Alemanha, França e Itália. Há cada vez maior distanciamento entre as instituições europeias e as populações e os projetos políticos contra a União têm ganho força.
A Trump pouco interessa a democraticidade dos regimes, mas a utilidade de cada nação para o interesse norte-americano. Portanto, tenderá a privilegiar as relações bilaterais e menosprezar a União. A ausência de convite a Von der Leyen para a tomada de posse de Trump foi um sinal claro. Mesmo com todos os defeitos e limitações da UE, tudo o que enfraqueça a Europa é negativo para Portugal.
Os países da NATO serão compelidos a gastar mais. Portugal gasta em defesa menos de 1,5% do PIB, os aliados da NATO exigem pelo menos 2% e os EUA falam em 5%. Tendo em conta um orçamento equilibrado, este pode ser um assunto difícil de gerir.
4. Política nacional
O fenómeno Trump levou e levará a efeitos de imitação e até de legitimação de ideias mais extremas e pouco consentâneas com um Estado de Direito democrático. Com Trump no poder, indivíduos e organizações sentir-se-ão mais à vontade para defender teses e comportamentos que até agora estavam adormecidos. Essa influência não se manifestará apenas nos partidos ou políticos mais extremados, mas também nas opções do Governo e oposição.