Assumindo por momentos que Donald Trump é um empresário de sucesso por ter arrecadado uma fortuna considerável e que, por essa razão, é um bom gestor de empresas, tal não faz de Trump necessariamente um bom gestor público e muito menos um bom político.
Galvanizado na sua própria aura de homem de negócios bem-sucedido, Donald Trump tem convencido os eleitores americanos e tem superado todas as adversidades, mesmo depois de conquistar a triste proeza de, pela primeira vez na história da América, todos os jornais influentes terem manifestado o seu apoio a um único candidato: Hillary Clinton.
Aliando o frequente preconceito do gestor privado como bom gestor público ao descrédito crescente dos políticos e dos partidos, um homem como Trump pode parecer o D. Sebastião americano que, numa manhã de nevoeiro e de uma assentada, resolverá todos os problemas da América – “Make America great again”. Mas como em quase tudo na vida, e especialmente na economia e na política, não há soluções fáceis.
O que é então diferente na gestão de empresas e na gestão pública? Paul Krugman refere que “economia e negócios não são a mesma coisa e o domínio de um não garante a compreensão ou, muito menos, o domínio do outro”. Para ser bem-sucedido nos negócios, um gestor privado deve ter uma estratégia bem definida e uma atitude ‘hands-on’, deve procurar ser inovador e interventivo ao nível organizacional, deve ser rápido e, muitas vezes, deve seguir o seu instinto, aproveitando oportunidades que outros não veem.
Estas qualidades, que aparentemente funcionam num sistema de uma empresa, como refere Krugman, não funcionam num sistema ultra complexo, fechado e incerto como a economia de um país. Se numa empresa aumentarmos as vendas e o investimento num departamento, isso não significa forçosamente que tal aumento reduza os recursos disponíveis noutro departamento, uma vez que a empresa pode contratar mais trabalhadores e angariar mais capital. Num país não é assim: a alocação de capital e trabalho a um setor específico é feita obrigatoriamente à custa do capital e trabalho de outros setores. Na política monetária e fiscal, mais do que uma estratégia interventiva e decisões táticas instintivas, é preciso agir com prudência respeitando os princípios económicos.
Mas para além das razões económicas enunciadas por Krugman, há razões intimamente ligadas ao exercício de cargos públicos em democracia que exigem perfis específicos e mais nobres. Desde logo, o empresário é alguém que está habituado a pensar unicamente nos seus interesses, nos da sua empresa e dos seus ‘stakeholders’; já o político deve sempre focar-se no interesse geral da comunidade em que se insere.
Independentemente dos ideais políticos que cada um perfilhe, e mesmo ignorando todas as atrocidades morais que Trump profere, nem o principal argumento da campanha de Trump é realmente válido para o tornar apto a ser o próximo presidente dos EUA.