O regresso de Trump à Casa Branca desafia o mundo como o conhecemos. Seja na política, na diplomacia ou na economia, a sua liderança heterodoxa promete combinar imprevisibilidade com eficácia.
Sabemos que os preços não descem por decreto e que a inflacção não se controla por simples vontade política. Ainda assim, o 47.º presidente dos EUA é um líder incontornável cuja soberania disruptiva enseja novos debates sobre poder, estratégia e ética.
Vindo do universo corporativo, o instinto de sobrevivência tornou-o multimilionário, fruto da capacidade em reerguer-se e renascer múltiplas vezes das cinzas da bancarrota.
As empresas podem identificar-se com este caminho de altos e baixos. Enfrentam obstáculos diariamente e têm de tomar decisões cada vez mais rápidas e assertivas, e tantas vezes impopulares.
Vivemos tempos de incerteza – a maior inimiga de qualquer economia – que levam os decisores à denominada option to wait, perspectivando valor económico no acto de esperar, como Myers explica na Teoria das Opções Reais. As bolsas de valores – que habitualmente antecipam ciclos económicos – denotam já volatilidade. Os indicadores dizem, pois, que vêm aí novos desafios para as lideranças.
Os critérios de Trump repudiam os princípios de good governance, mas nas empresas, a disrupção pode paradoxalmente inspirar a procura de novos caminhos para fazer negócios. Os novos caminhos podem ser de reequilíbrios de poder, sem comprometer as competências dos gestores e dos órgãos de administração, desde logo previstas na lei.
A lei impõe já que as médias e grandes empresas emitam relatórios anuais sobre o seu impacto ambiental, responsabilidade social e modelo de governação interno. Preconiza uma gestão empresarial com modelos de ponderação dos interesses dos vários stakeholders, processos de decisão descentralizados e representatividade ampliada nos órgãos de topo. Os códigos de governo societário recomendam comissões especializadas dentro das administrações e gestão alinhada com os princípios de ESG (sustentabilidade, responsabilidade social e bom governo).
Uma liderança tão disruptiva como a de Donald Trump traz a incerteza favorável à mudança. Aproveitar o momento para reforçar boas práticas de gestão beneficiará as próprias empresas.
Então, que lições podem as empresas extrair da desconsideração absoluta de Trump por normas estabelecidas? Uma lição sobre a importância de preservar referenciais de valores e outra sobre como a reputação varia na proporção directa da ética.
Este é um novo tempo e as empresas deverão preparar-se fortalecendo eixos estruturantes, como os de good governance, através de processos internos e externos que consolidem reputação e elevem padrões de responsabilidade – ecológica, comunitária e de boas práticas de gestão (ESG).
O mundo mudou e um bom gestor já não pode ser apenas shareholder-centric. Para o vinho novo das lideranças disruptivas, odres novos de CEOs: sem amarras para mudar, mas inquebrantáveis nos valores.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.