Desde o final da Segunda Guerra Mundial que os países do chamado Primeiro Mundo têm vindo a abandonar políticas protecionistas e a dar passos no sentido do comércio livre. O debate económico protecionismo vs comércio livre parecia estar ultrapassado há muito. Os principais economistas mundiais concordam que o comércio livre (ou, na realidade, o comércio com barreiras reduzidas) é a melhor solução para a criação de riqueza e de emprego e para o crescimento económico mundial. Criou-se a Organização Mundial do Comércio e o G20 reúne-se periodicamente para que os países ricos renovem promessas recíprocas de eliminação de políticas protecionistas e de barreiras ainda existentes ao comércio mundial.
Só que, sem que ninguém verdadeiramente contasse com isso, Donald Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos da América e deixou bem claro que o seu plano económico assenta em duas ideias chave: “Comprar americano. Contratar americano”. Em termos simples, o que se espera são incentivos para as empresas americanas instalarem a sua produção no país e contratarem mão-de-obra nacional e a criação de obstáculos à importação de produtos estrangeiros. Foi com esta promessa que Trump conquistou o seu lugar. E começou já a anunciar o abandono de alguns acordos de comércio livre de que os EUA são parte.
A preocupação é generalizada dado o impacto que a Trumponomics poderá ter globalmente. Mas quem tem mais razão de apreensão são as próprias empresas americanas, por norma, grandes exportadoras. É que a protecionismo responde-se com protecionismo. E se os EUA encerrarem as suas fronteiras a produtos estrangeiros, as empresas americanas podem esperar o mesmo fora do país. Como será a guerra entre a Apple e a Samsung se esta puder vender em todo mundo ao abrigo do acordos de comércio livre e a primeira sofrer, como retaliação às medidas de Trump, os mesmos ónus aduaneiros que os EUA pretendem impor às empresas estrangeiras?
A conceção empresarial que tem do cargo para que foi eleito tem também levado Trump a comentar importantes temas de geopolítica mundial com a leveza própria com que um businessman visa aumentar o seu poder negocial. Isto é, desde logo, visível, na forma como olha para a União Europeia. A intuição empresarial diz-lhe que a pulverização da União Europeia em vinte e oito Estados é boa para a América, uma vez que deixará de ter um player com peso económico e poder negocial comparável ao seu no xadrez do comércio internacional. Por isso saúda o abandono do Reino Unido e deseja idêntico caminho para outros Estados Membros.
Trump só parece não ter consciência, talvez por falta de cultura ou de conhecimento histórico, do papel estruturante da União Europeia na manutenção da paz na Europa. E de como a paz na Europa é também importante para a paz e para a prosperidade no mundo, incluindo na América.
Por fim, e por falar em paz, a sua caminhada isolacionista parece estender-se também ao campo diplomático e militar, ao insistir em menorizar o papel das Nações Unidas e em rotular a NATO como uma instituição obsoleta. É difícil perceber ao certo onde irá dar a estrada que Trump vai construir. Mas certo é que não é preciso ser pessimista, basta ser realista, para temer o pior.