Paul Krugman afirmou que a eleição de Trump levaria a uma queda dos mercados. Nas primeiras horas, alguns sectores efectivamente caíram e arrastaram consigo os índices. Mas nas horas seguintes outros sectores subiram e levaram os índices a novos máximos, com o Dow a atingir 18.873 pontos. Aparentemente, os investidores já perceberam que sectores vão ser beneficiados por uma presidência Trump – por exemplo a construção civil, a energia e a indústria farmacêutica – e estão a investir em coerência.
A política fiscal de baixa de impostos, a redução de burocracia e da regulação, e a redução dos gastos militares (não por acaso o complexo industrial americano apoiava Hillary), todas apontam para uma economia mais forte, com o possível aumento de tarifas como um ponto de possível efeito negativo a acompanhar com cuidado. Resta também saber como vai financiar o enorme programa de infra-estruturas sem incorrer em défices ou aumentos de impostos. Peter Navarro afirma que a solução passa por créditos fiscais para incentivar a construção, o que, emparelhado com a duplicação do crescimento de 2% para 4%, evitaria o aumento de impostos, mas tal solução é de difícil implementação.
A Reserva Federal evitou aumentar as taxas de juro directoras para não influenciar as eleições – uma retirada prematura dos estímulos em décadas passadas levou à não eleição de candidatos próximos dos incumbentes anteriores. Com o ciclo eleitoral terminado, será de esperar que Yellen comece o processo de normalização das taxas de juro nos próximos meses, antes de sair em Fevereiro de 2018.
Por fim, Trump coloca uma face menos agradável no estado americano. Muitos redescobrirão o encanto do liberalismo e do governo limitado, contestando medidas do governo a cada passo. Como em Portugal, Passos tinha Presidente, Governo e Maioria e não conseguiu implementar todo o seu programa, nos EUA Trump possui Presidência, Senado, Congresso e Supremo, mas também deverá enfrentar resistência a todos os níveis. Trump terá de justificar cada medida, cada opção política e muitas não passarão. Trump não terá a carte blanche que Clinton teria.
Trump surpreendeu muita gente ao concorrer, ao ser nomeado e ao ser eleito, mas creio que a maior surpresa ainda vem aí: uma presidência tranquila.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.