Celebrou-se há pouco o primeiro ano sobre a posse de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos. Tempo caracterizado por uma mudança radical na Casa Branca, em estilo e numa dimensão diametralmente distinta da liderança de Barack Obama.
Ao longo dos últimos doze meses, os tweets e as posições radicais trouxeram uma nova face da “America first”, em que a política interna se sobrepõe ao interesse pelo mundo e a uma perda da influência americana em múltiplos palcos.
A comunicação sobrepôs-se à estratégia, resvalando para o radicalismo em matéria de emigração e política intercultural, houve um recuo nas políticas sociais quer de saúde, quer da educação e ambiente, numa via populista buscando quem elege e diminuindo as elites intelectuais e sustentando as elites financeiras. Esta atitude não é nova, nem na política americana, nem nas tendências políticas mais recentes, que relevam cada vez mais a preocupação com o voto de quem os segue do que a determinação de quem lidera.
A crescente decadência das elites ou a falta do seu reconhecimento proporcionam que as lideranças dos povos, das instituições e até das sociedades sejam cada vez mais frágeis ou fracas na perda do sentido do poder. Sem estratégias consequentes, a vida política é dominada por ações tácitas e movimentos espontâneos limitados. As posições públicas já não são condicionadas por uma forte comunicação social mas por precárias ondas de redes sociais que não se preocupam com a verdade, ou com factos, mas sim pela construção de cenários e hipóteses que se tornam falaciosas realidades que falecem na semana seguinte consumidas pelo esquecimento.
Essa é a política construída pela centena de carateres que integram um comentário no Twitter e que provoca mais análises, discussões e conclusões do que um texto articulado, sustentado e lógico de um jornalista, de um académico ou de um governante. Mas não nos iludamos: a política americana é mais do que simples cometários bombásticos ou ocasionais. Alguns estranharam as recentes afirmações do presidente Trump, aparentemente divergentes das suas posições anteriores. E até se imputou essa mudança a uma postura de “Dr. Jekyll and Mr. Hyde”, entre o repentismo dos tweets e a perspetiva séria do teleponto.
A política externa americana assumiu em vários momentos contornos erráticos. E afirmar que Trump não sabe o que quer é precipitar uma conclusão em função do que se quer ouvir. A “América primeiro” revê-se nas posições nacionalistas dos princípios do século XX que a manteve afastada durante muito tempo da cena internacional.
A ação de Trump, politicamente incorreta, é o produto de uma sociedade que se desconstrói nos valores, na vivência consumista imediatista e no sentimento de perda de futuro sustentado. Mas abre-lhe espaço para travar batalhas incómodas e garante lastro para recuar noutros momentos, arrastando uma classe média que de outro modo lhe escaparia. É nestes saltos de trampolim que se constrói a América de hoje.