O mundo assiste a um sincronismo ímpar de várias crises interdependentes. A evidência das causas e consequências das alterações climáticas merece um amplo consenso na comunidade científica. As fragilidades estruturais da economia global, demasiado exposta a fatores de risco como o preço do barril de petróleo, foram já motivo de alerta por diversas organizações. Por outro lado, não se antevê uma solução para o problema da insegurança alimentar – agudizada por um planeta com 9 mil milhões de pessoas para alimentar em 2050 –, nem para o défice de disponibilidade de água potável (previsto para 2030), que redunda em grande medida numa questão geoestratégica (basta pensar que o Iraque e a Síria dependem dos recursos hídricos da Turquia). Já no que diz respeito à crise dos refugiados, importa não perder de vista que mais de 21 milhões de pessoas em todo o mundo estão registadas pelo ACNUR. Coletivamente, estas crises obstaculizam o estabelecimento de uma tendência de crescimento global e intensificam problemas sociais como o elevado nível de desemprego, de insegurança e de instabilidade social.

Historicamente, perante crises ambientais e humanitárias, os países desenvolvidos têm apresentado respostas concertadas. Contudo, temos hoje uma administração norte-americana constituída por céticos das supracitadas crises. Prova disso é a anunciada redução de financiamento dos EUA às agências da ONU e a recente mudança de posição de Washington face ao Acordo de Paris.

No que concerne ao desafio climático, curiosamente, assistimos a uma alteração da georreferenciação do primado da razão. A administração Trump representa o “negativo” dos ideais fundacionais dos EUA e compete, internacionalmente, numa espécie de “Liga dos Últimos” com tweets Pavlovianos. Como contraponto, a China está a acompanhar a UE na liderança da transição energética e pretende tornar-se, em 2030, líder mundial em tecnologias limpas. Hoje a China já é o país com mais elevada potência instalada de energia eólica (170 GW) e com um notável ritmo anual de comissionamento (equivalente a quatro vezes a potência eólica instalada em Portugal). Enquanto Trump rasga o Acordo de Paris por causa das “suas” minas de carvão, em Pequim prossegue-se o esforço de descarbonização da economia por via da fixação de uma taxa sobre a utilização desse combustível fóssil. Se Trump escutasse o seu secretário de Estado Rex Tillerson (ex-CEO da ExxonMobil), os seus aliados no Médio Oriente ou mesmo Vladimir Putin, perceberia que a indústria do petróleo e do carvão está em modo “gestão-do-fim-de-vida” e carece de uma reconversão tecnológica.

Ainda assim há motivos para o mundo estar otimista. O “comboio” da economia de baixo carbono já segue a alta velocidade na UE e em vários estados norte-americanos, com a Califórnia à cabeça. Tentando adaptar o pensamento de Thomas Jefferson* aos dias de hoje, um país, como os EUA, com cidadãos e empresários informados, seguramente aproveitará as oportunidades de uma economia “verde”, sustentada no conhecimento e nas tecnologias limpas.

 

* “…wherever the people are well informed they can be trusted with their own government…”, Thomas Jefferson to Richard Price, 1789