A reviravolta estonteante nas últimas sondagens parece indicar que Rui Rio e o PSD afinal têm hipótese de vencer as eleições legislativas.

Não sabemos se é mesmo assim porque isso significaria que, de repente, cerca de 10% a 20% do eleitorado teria de largar o PS e António Costa para abraçar Rio e o PSD, mudando completamente nos últimos dias de campanha. E, diz-nos a história e o bom senso que quando há demasiada volatilidade é aconselhável prudência na análise dos resultados.

Quando escrevemos esta crónica parece, assim, estar tudo em aberto para dia 30.

Mas, se por hipótese académica Rio vencer as eleições, estará desde logo a cometer um erro ao ostracizar em demasia o Chega, que quase todas as sondagens dão como terceiro partido político com assento no parlamento. Enquanto, por outro lado, prefere abrir os braços a um CDS quase insignificante e que, no máximo, poderá eleger um deputado, e a uma IL que é um fenómeno das redes sociais e de alguma comunicação social, a mesma que há uns anos aplaudia entusiasticamente o Bloco. A IL passou a ser a “menina bonita” de jornalistas, comentadores e afins. Onde é que já vimos isto?!

A grande questão (no caso académico de Rio ganhar) é saber se é suficiente o valor destes dois partidos acrescentados ao PSD para formar governo, algo que é pouco plausível já que só com os 7% a 9% do Chega permitirá ao centro-direita ter maioria no parlamento. O partido de Ventura será charneira na próxima função do Governo quer a aprovar uma solução, quer a chumbar.

Mas há uma outra solução que poderá surgir caso à direita não exista entendimento devido à repulsa do Chega no PSD, CDS e IL, que será o bloco central. E como Costa já disse que se demitirá em caso de derrota nestas legislativas, terá de ser outro líder do PS a aceitar ir para o Governo com Rio e assumir o lugar de vice- primeiro-ministro.

Ora, é assumido que não poderá ser um secretário-geral qualquer do PS. Pedro Nuno Santos, que é maioritário dentro do partido em termos de apoios nas federações distritais, é partidário de uma solução que envolva a extrema-esquerda e nunca aceitaria ser vice de um governo do bloco central. Portanto, alguém terá de convencê-lo a não ser candidato à sucessão de Costa.

Resta Fernando Medina, Mariana Vieira da Silva ou Ana Catarina Mendes. No entanto, estas soluções são mais fracas e difíceis de explicar dentro do PS. Ainda menos plausível seria uma solução que envolvesse os ultra moderados que existem no Partido Socialista, embora esses estivessem em condições de fazer pontes com o PSD, caso de Álvaro Beleza e Francisco Assis.

Resumindo, a equação de um bloco central sem António Costa é difícil de imaginar e, por isso, teríamos – neste cenário – um governo a incluir o PAN (que entrará em caso de vitória à esquerda ou à direita) mas que durará pouco tempo. Talvez seis meses, um ou dois anos. Será sol de pouca dura!

Depois disto, outras figuras – mais fortes – irão emergir quer no PS, com Pedro Nuno Santos, quer no PSD, com Carlos Moedas ou Luís Montenegro. Isto partindo do princípio que Passos Coelho irá continuar indisponível para regressar à política. Antes como agora, e no futuro próximo, Passos Coelho perfila-se como a solução para aglutinar votos ao centro e ao centro-direita, exatamente o espaço onde o PS se “alimenta”.

Voltando à realidade e às sondagens mais recentes. Estas têm o efeito de “puxar” o voto útil no PS, implodindo o Bloco, e de encostar Rio “às cordas”. Se não vencer tem o futuro no PSD comprometido, independentemente de uma boa votação.