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“Tudo o que fazemos no digital é a pensar já no novo hospital”, diz administrador do Centro Hospitalar Lisboa Central

O Hospital de Lisboa Oriental, que será construído em regime de PPP na zona de Marvila, terá um total de 875 camas, com “digitalização desde as lâmpadas aos serviços de suporte”, garante Paulo Espiga ao Jornal Económico. A Microsoft faz parte do processo.
23 Outubro 2022, 19h00

O Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC), que reúne São José, Capuchos, Santa Marta, D. Estefânia, Curry Cabral e Maternidade Alfredo da Costa, está a preparar-se para o futuro Hospital de Lisboa Oriental, em Marvila, através da tecnologia. Em entrevista ao Jornal Económico, Paulo Espiga, membro do conselho de administração do CHULC, e Sandra Gil Mateus, account executive do Sector Público e responsável de Saúde na Microsoft, contam como o Teams ou as lâmpadas inteligentes podem ajudar a salvar vidas.

Quando teve início a vossa transformação digital?
Paulo Espiga (PE): Começou com mais intensidade em 2020. As pessoas continuavam a precisar de nós para outros apoios além da Covid-19. Houve muitas barreiras – até mentais – que desapareceram e conseguimos, por Teams, montar teleconsultas (sendo que o telefone foi um meio privilegiado). Para ter uma ideia, fazíamos cerca de 400-500 teleconsultas por ano e nesse período chegámos às 7 mil por semana. Não pensem que somos assim grandes gestores [de transformação digital]. Foi mesmo uma necessidade, porque na naquele momento ou fazíamos assim ou não fazíamos. A telesaúde está em constante evolução e tem várias vertentes: telediagnóstico, telereabilitação, teleconsulta e teleformação, que foi muito importante para conseguirmos, internamente, dar orientações e suporte aos profissionais. Temos de os capacitar mais para a utilização das técnicas. Nós tivemos aqui um processo grande de formação, com a Microsoft, mas a adesão não foi a que esperaríamos e gostaríamos, apesar de terem ido 600 pessoas.

600 em dez mil funcionários?
PE: Somos à volta de 7.500. Demos oportunidade para 7.500 se formarem. Ao nível dos assistentes operacionais, implementámos um sistema de pedidos de limpeza nas unidades e neste momento estão formados mais de 500 nessa plataforma. Os assistentes operacionais seriam os “não mais óbvios” para ter formação na área digital e tiveram. A plataforma parece algo despiciendo, mas posso-lhe dizer que muitas vezes tínhamos doentes à espera para serem internados porque a cama ainda não tinha sido limpa e desinfetada.

Onde entra a Microsoft nesta história?
Sandra Gil Mateus (SM): Nós somos envolvidos no processo logo em 2020. A Microsoft tem tido esta estratégia não só de comercialização dos seus produtos, mas de apoiar na sua utilização, nomeadamente no sector público, onde sabemos que os investimentos que são feitos em tecnologia são do nosso dinheiro, dinheiro público. Quanto mais tirarmos proveito dessa tecnologia melhor para todos enquanto cidadãos, pacientes… Neste caso das equipas operacionais de limpeza conseguimos rapidamente ver como um processo simples, numa plataforma de comum utilização dentro de um hospital, traz benefícios. A Microsoft está a fazer, globalmente, uma transição na forma como olha para o mercado, a centrar-se cada vez mais em vertentes de indústria, especializando-a e até criando clouds específicas para cada uma delas. A primeira indústria onde isto aconteceu foi precisamente a saúde. Este ano em Portugal até fizemos passámos a ter uma gestão única da saúde pública e privada para tirar mais-valias.

Têm a vossa tecnologia em quantos hospitais públicos?
SM: Em todos. A contratação é feita via Serviços Partilhados do Ministério da Saúde e disponibilizada a todos os hospitais. Temos diferenças é na sua utilização, pela vontade de liderança digital que encontramos em cada um.

Quão complexo é digitalizar um hospital do SNS?
SM: É difícil. Estes hospitais, como o Lisboa Central, são enormes em todos os sentidos: atendem muitos pacientes, têm muitos profissionais de saúde e são dispersos do ponto de vista geográfico, o que não contribui para a rapidez. Num hospital, um conselho de administração tem, obviamente, muita responsabilidade, mas os diretores clínicos e os diretores de serviço também têm responsabilidade sobre o seu próprio serviço, portanto [a digitalização] tem de passar muito por essa liderança das equipas diariamente.

Em quantas especialidades médicas há teleconsultas no CHULC?
PE: Temos mais de 50 especialidades a utilizar as vídeoconsultas, mas sobretudo ao nível dos profissionais não médicos (psicologia, nutrição, enfermagem nas suas várias vertentes…). Este ano, até agosto, duplicámos o número de vídeoconsultas que tínhamos desde 2020, na soma de 2020 e 2021. Daqui a cinco anos nós não prestaremos cuidados da forma como prestamos hoje, neste ponto de contato entre os profissionais e os doentes. O mesmo com os dados. Se calhar fazemos muitas atividades que não deveríamos fazer, não trazem mais-valia, e deixamos outras para trás.

O novo hospital vai ser mais digital?
PE: Todos os passos que estamos a dar é a pensar já no novo hospital. Um dos pilares estratégicos deste conselho de administração é preparar-nos para o novo hospital, além dos outros dois de nos centrarmos nas pessoas (utentes e profissionais) e melhorar a eficiência. Um processo de digitalização não se coaduna com andar a trocar todos os dias de parceiro. Logo, envolve parcerias de longo prazo, porque estamos todos a aprender com os erros. O novo hospital não pode ser uma réplica deste em paredes novas. Tem de ter formas de organização, de trabalho, diferentes, que passam sobretudo pela integração, por ter informação clínica de suporte à decisão muito mais detalhada e acessível. O novo hospital funcionará dentro de três ou quatro anos e terá digitalização desde as lâmpadas aos serviços de suporte. A intensidade da luz é uma coisa que não podemos mudar nestes 100 edifícios distribuídos por sete polos e que tem muito a ver com a menor ansiedade do doente e o seu tempo de recuperação.

Existe uma espécie de “Teams Saúde”?
SM: O Teams é um produto que pode ser adaptado às necessidades da saúde. A Microsoft tem um ecossistema de parceiros e a partir daí começamos a ter soluções de saúde integradas com o Teams. Por exemplo, há softwares de imagiologia mundiais, muito utilizados em Portugal – há três ou quatro marcas muito conhecidas -, que trazem nativos capacidades de integração com a plataforma de colaboração. O que é que isso permite? Que um técnico de radiologia, quando está a fazer um relatório e precisa de consultar outro técnico ou um especialista, possa rapidamente, dentro da aplicação, fazer uma chamada pelo Teams sem ter de se mover dentro do hospital.

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