Ganhou imensa visibilidade em Portugal nos últimos anos, apesar de ter sido uma área que sempre foi importante para a economia nacional. Desde 2012 que o número de visitantes em Portugal aumentou quase 50%, tendo superado os 20 milhões de visitantes em 2017, e apesar de ser esperado um abrandamento este ano, a mudança disruptiva parece ter chegado para ficar. O setor é hoje mais rentável e sustentável, e isso é visível, por exemplo, nas receitas por quarto nos hotéis, que, atualmente, é cerca de 50 euros por quarto, praticamente o dobro (28 euros) que em 2012.

O aumento do peso do setor do turismo em Portugal na economia – valerá hoje cerca de 9% do PIB português – ajudou ainda a transformar o parque imobiliário nas grande cidades (sobretudo Lisboa) e acomodar a ausência de reformas estruturais noutros setores da economia, que sem este importante contributo dificilmente teria sido capaz de contornar as dificuldades de competitividade que ainda subsistem no país.

Contudo, a tendência não se fica apenas pelo sul da Europa. No agregado da União Europeia, o setor representa um contributo direto de cerca de 5% do PIB da zona euro e, sobretudo, uma importante área de criação de postos de trabalho – são mais de 12 milhões de europeus a trabalhar no sector, onde as faixas etárias mais jovens são uma relevante fonte de recrutamento. Num momento de grandes incertezas relativamente ao futuro do mercado de emprego, o setor pode vir a representar um gatilho de equilíbrio para os países do sul, e uma importante fonte de receitas estrangeiras, num momento de tensões internacionais no tradicional comércio internacional.

A Europa representou em 2017, cerca de 51% de todos os destinos escolhidos de acordo com a ONU, o que representou um aumento de 8% face ao ano anterior – beneficiando sobretudo do turismo norte-americano (e do aumento do seu poder de compra), que subiu 16% em visitas apenas num ano – e também os provenientes da China ou da Índia, países onde os hábitos de turismo internacional têm vindo a crescer a par da prosperidade económica, e onde os destinos europeus são bastante apelativos como primeira escolha.

Outros fatores têm contribuído para esta explosão na última década.

Por um lado, as companhias aéreas low cost, têm vindo a multiplicar os destinos dentro do Velho Continente, com os preços médios a caírem significativamente. Companhias como a Vueling, Ryanair ou Easyjet lideram o processo, mas também outras companhias mais tradicionais têm vindo a adaptar a sua oferta para este novo mercado.

Por outro lado, uma revolução na economia de partilha, com epicentro nas plataformas como o Airbnb (lançada em 2008) democratizaram imenso os preços nas cidades europeias de maior relevo, permitindo também maiores ganhos para os residentes dessas cidades e maior envolvimento dos locais com o Turismo.

No entanto, e com as expetativas em alta para 2018, o fenómeno turístico tem sofridos resistências em alguns destinos que estão hoje em dia muito sobrecarregados, e onde as autoridades locais produziam incentivos, hoje vão tentando controlar o fenómeno. Barcelona será o caso mais mediatizado, onde houve protestos públicos contra aquilo que a população teme que possa estar em risco, que é a identidade da cidade. Mas até noutras cidades, como é o caso de Lisboa, as discussões em torno do Alojamento Local e do seu impacto na disponibilidade de residências para habitação têm estado na ordem do dia, e até na base de polémicas em torno de políticos e autarcas.

A primeira reflexão que importa salientar é a necessidade dos países europeus e das cidades conseguirem equilibrar os benefícios do Turismo, fazendo dele um verdadeiro gatilho que ajude não só a reabilitar as cidades e a trazer poder de compra, que obviamente interessa não apenas aos setores diretamente relacionados, mas também outros, que tradicionalmente não estão totalmente abrangidos pelo diretamente relacionados.

Do outro lado da balança tem que estar o esforço de regular e procurar preservar a identidade das cidades e dos países, evitando transformar os mesmos em autênticos parques de diversões, ou em locais que pelos preços proibitivos, não têm habitantes locais. Ou seja, ao Turismo importa servir como gatilho da economia, mas que permita também a subida dos rendimentos médios das famílias, sobretudo em países como Portugal.

Outra questão está relacionada com a cortina de fumo que a escalada do setor do turismo pode estar a criar em países como Portugal, que ainda detêm muitos desequilíbrios estruturais por corrigir. O crescimento exponencial do Turismo, a par do aumento das margens médias por visitante, tem sido um fator bastante importante para contrariar as deficiências de competitividade que a economia nacional ainda apresenta, mesmo passado vários anos desde a intervenção externa.

O setor do turismo em Portugal tem vindo a crescer cerca de 10% ao ano, mas a economia nacional mantém-se apenas acima da água – em 2018 deverá crescer 2,2%, 1,9% em 2019, e 1,7% em 2020, valores que são dos mais modestos dentro da zona euro, e que não permitem reduzir a convergência atual com os nossos parceiros. É importante por isso que se recupere (e não é apenas em Portugal), um ímpeto por crescimento nos setores tradicionais, como a Indústria e Inovação, que equilibre o perfil económico do país – e algumas instituições como o FMI já providenciaram alguns avisos.

O Turismo é sem dúvida um importante valor a explorar, até pela capacidade de criação de emprego que detém, mas não deve ser um desígnio de um país moderno – até porque valemos certamente mais que isso, basta ver os novos e inovadores industriais portugueses que dão cartas em diversos setores – ver o seu país transformado num gigante resort de praia ou numa espécie de parque temático internacional, ainda que obviamente seja um setor incontornável e vital.